A Argentina de Lionel Scaloni como um argumento a favor do time-base

21 de junho de 2022 393

Logo após o 2 x 1 do Fortaleza sobre o Flamengo pelo Brasileirão, no dia 5 de junho, no Maracanã, Antero Greco publicou em seu blog na ESPN uma análise sobre o momento do Urubu (que terminaria a nona rodada na 11.ª posição, com um aproveitamento de 44,4%) e sobre a viabilidade de se manter ou não Paulo Sousa no comando da equipe para o restante da temporada.

Embora não tenha se posicionado claramente a respeito dessa última questão, o jornalista paulistano fez questão de apontar aquele que seria o principal erro cometido pelo técnico português: a indefinição quanto a um time-base.

É verdade que, como o próprio Greco observou, várias mudanças de escalação se deveram a motivos de força maior, como suspensões e lesões. Um exemplo disso foi o dessa derrota para o Tricolor cearense, quando o Rubro-Negro carioca teve nada menos que sete desfalques, dentre eles os indiscutíveis Gabi (suspenso) e De Arrascaeta (com o Uruguai).

Por outro lado, a presença de Willian Arão em vez de João Gomes no jogo anterior, contra o Fluminense, justificou críticas oportunas de Breiller Pires (também da ESPN) e serviu para realçar a importância de se definir um onze ideal. E é nesse aspecto que a Argentina de Lionel Scaloni pode servir de exemplo.

O sucesso de nossos “hermanos” Antes de ir adiante nesta análise, é necessário constatar o óbvio e lembrar que treinar uma seleção é bem diferente de treinar um clube. Paulo Sousa sabe disso não só por experiência (comandou a Polônia por cerca de um ano antes de vir para o Flamengo), mas também pelo ambiente cultural em que cresceu.

Como mostra um texto de Rui Lança para o site português Maisfutebol, por lá tende-se a utilizar a palavra selecionador para quem treina uma seleção. Trata-se de uma maneira bastante útil de lembrar que, em casos como esse, antes de mais nada um treinador seleciona os atletas de determinado país que estiverem em melhor forma física, técnica, tática e emocional.

Feitas essas considerações, mesmo quem treina um clube poderia se inspirar no sucesso recente da Argentina. Durante a campanha que resultaria na conquista da Copa América de 2021 sobre o Brasil, em pleno Maracanã, Lionel Scaloni (àquela altura visto quase como um técnico interino) foi capaz de definir uma equipe titular que desde então mudou muito pouco.

E as primeiras recompensas por essa decisão não demoraram a chegar: a Alviceleste não só quebrou um jejum de títulos que já durava 28 anos, como garantiu a classificação para a próxima Copa do Mundo (que será disputada no Catar entre novembro e dezembro deste ano) com cerca de um ano de antecedência.

A cereja no bolo é que, após a vitória por 5 x 0 em amistoso contra a Estônia, no último 5 de junho, a equipe agora ostenta uma invencibilidade de 33 jogos. Uma matéria do site da UEFA nos lembra que o recorde atual pertence à Itália e é de 37 jogos.

Superar esse número seria uma grande façanha por si só, mas ainda mais quando lembramos de equipes argentinas bem mais talentosas. Ou alguém acredita que o time atual é, jogador por jogador, superior ao do Mundial de 2006, de nomes como Juan Román Riquelme, Juan Pablo Sorín, Hernán Crespo e Carlos Tévez?

A Alviceleste de hoje tem dois remanescentes do grupo de 16 anos atrás: o próprio Scaloni (na época um lateral-direito de 28 anos) e Lionel Messi (que completou 18 anos durante aquela competição).

Afora Messi, a equipe atual (cujo onze-base pode ser visto em texto recente do PVC) tem talvez um ou dois craques. Ainda assim, no último 9 de junho, o retorno oferecido em sites de apostas da Copa do Mundo 2022 pelo título da Argentina no Catar era de 9,00, o que a deixava como a quarta seleção mais cotada, junto à Espanha.

O exemplo de 2019

Na análise de Antero Greco, mencionada no início deste texto, o jornalista da ESPN lembrou que parte importante do sucesso do Flamengo de 2019 foi justamente o fato de Jorge Jesus ter definido um time titular — do qual dificilmente abria mão, apesar do intenso calendário do futebol brasileiro.

Não se pretende aqui dizer que repetir essa fórmula vá, de uma hora para outra, resolver todos os problemas do Rubro-Negro. Mas exemplos como esse e como o da Argentina atual mostram que, para um treinador, deixar claro quem são os seus titulares e quem são os seus reservas pode ser o primeiro passo para a conquista da paz dentro e fora de campo.

Fonte: ESPORTES FLAMENGO .COM