A banalização da ingratidão

2 de julho de 2018 1100
É até surpreendente como até hoje o povo culpa por aqui as usinas do madeira até pelo volume de chuvas. Mas esquece da enxurrada de dinheiro que foi aqui despejada. Claro que grande parte foi desviada, mas os desvios não foram obras de engenharia: foram eleitorais. O mesmo povo esquece que elegeu -  e reelegeu -  Ivo Cassol e Roberto Sobrinho.
O cardápio de mágoas despejado diariamente em forma de "fakes" nas redes sociais não poupa ninguém. Um exemplo: circula um vídeo antigo que mostra Valdir Raupp na companhia de Lula e Dilma, para comprometer sua campanha à reeleição. Mas nada é dito sobre o sucesso eleitoral do casal Raupp naquela ocasião: ambos foram eleitos com as maiores votações do estado.
O brilhante Eduardo Simbalista indica que os desafios urgentes do Brasil são: crescer, repartir e educar. O Brasil deve crescer um Uruguai a cada ano, um Chile a cada cinco e uma Argentina a cada 10 anos, apenas para gerar os empregos dos jovens que chegam ao mercado de trabalho. Já perdemos muito tempo: é hora de deixar as incertezas para trás.
Falar mal do Brasil virou esporte nacional: do sonho ufanista do Brasil do futuro (que nunca se realiza como no mito de Sísifo), o brasileiro acorda para nova epidemia. Os sintomas: decepção, desencanto, descrença, desesperança. O brasileiro desiste do sorriso, perde a alegria, abre mão da esperança.
Essa dificuldade de ser brasileiro, de aceitar verdadeiramente o Brasil como pátria e Nação, não é nova. Culpam a colonização pelo que o Brasil é hoje: meio espoliado, meio sem dono. Nesta terra de índio sem índio, o problema é sempre do outro. Os males do Brasil eram a saúva, pouca saúde e a inflação; agora a insegurança, pouca saúde, pouca educação e a corrupção. O que fizemos com o nosso país neste vôo da galinha? Então o brasileiro, povo sofrido, não está acostumado ao sofrimento?
O Brasil, terra abundante, litoral  imenso, enorme potencial e com inúmeros problemas a enfrentar, está acostumado a que o brasileiro lhe dê as costas. O brasileiro vê o país ser saqueado como assiste a um reality show de mau gosto. O brasileiro do “meu pirão primeiro” e do “todo mundo é ladrão” vai do otimismo ilusório ao pessimismo amargo com a naturalidade de quem sobe e desce de elevador.
O Brasil não tem culpa. O Brasil é o Brasil. O Brasil é maior do que o brasileiro. A culpa é nossa: dos brasileiros.
A ferrovia comunista
O maior algoz do brasileiro é ele mesmo. Exemplo disso é a viralização nas redes sociais de um vídeo, aliás muito interessante, da construção de ferrovia de Lucas do Rio Verde até o Maranhão. A fake diz que a obra é dos chineses e confirma a ocupação do Brasil pelos comunistas. E o brasileiro come com farinha!!!
Só que a obra é brasileira e tocada pela Vale do Rio Doce e a linha que estava sendo instalada não de Rio Verde, mas de Marabá até São Luiz. Isso não significa que os chineses não possam vir a implantar ferrovias por aqui. São, aliás, muito bem vindos, especialmente se resolverem investir no trecho da Ferrovias Centro-Oeste, de Sapezal a Porto Velho.
A Petrobrás é nossa! É mesmo?
O problema é que não há o diabo que faça o povo entender que de comunistas os empresários chineses só têm o rótulo. Seu idealismo é ditado pelo mercado, da mesma forma que nossa democracia. Aquela história de "O petróleo é nosso" não passa de enganação. É conversa fiada. Ele é tão nosso quanto dos acionistas da bolsa de Nova York. Pertence ao mercado e é regulado por ele. Por isso o Brasil vende petróleo ao exterior a preços internacionais e pela mesma medida compra óleo diesel, que não produz e volume suficiente para atender à demanda. A solução viria com a refinaria Abreu Lima, em Suape, mas as obras foram paralisadas em função da corrupção.
Vai daí que o país continua a importar diesel a preços e variações de mercado internacional. E a repassar os custos ao consumidor, que é para não quebrar a Petrobrás que, vale lembrar, também "é nossa!". Foi exatamente o que provocou a greve dos caminhoneiros cujos prejuízos jamais serão totalmente dimensionados, mas com certeza foram maiores do que toda a grana desviada da Abreu e Lima. Antes que perguntem se prefiro a corrupção, vou adiantar: não! Quero os corruptos investigados, condenados e presos. Mas não precisa paralisar uma obra a tal ponto estratégica por conta disso. É só o brasileiro que pára tudo para investigar, ao invés de afastar os suspeitos, corrigir os rumos e tocar o bonde, pois não?
A conversa de não entregar as riquezas nacionais é outro mito bem explorado pelos que defendem a manutenção das tetas - e orçamentos bilionários - das empresas estatais. Está exatamente aí o berçário da corrupção. Por isso são contra privatizações: quem indica os diretores nada de braçadas. Pior é que as redes sociais pelas quais veiculam sua pregação estatizante só existem pela privatização das teles. Por isso cada um tem um celular, pelo qual espalham bobagens país afora. Mas a burrice generalizada impede que se perceba a verdade.
 
A falsa bandeira da natureza
Outro exemplo é a foto da Bandeira do Brasil no rio Amazonas, que circula na internet como que em comemoração da natureza pela vitória da seleção, mas não passa de montagem, com técnica de espelhamento de imagem. Indiscutivelmente bela, mas falsa. Basta observar que as árvores são as mesmas de ambos os lados da foto.
O Brasil injusto que eu não quero
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, registrou em sua página no Twitter os 50anos do atentado terrorista que matou covardemente em São Paulo o soldado Mário Kozel Filho, de apenas 18 anos de idade, que prestava serviço de sentinela da sede do então II Exército. “Kozel, Exército lhe presta continência”, diz a mensagem do general.
Vários integrantes do grupo responsável pelo ato terrorista, membros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), seriam premiados anos mais tarde com indenização de “perseguidos políticos”, que inclui pensão vitalícia. A Comissão de Anistia lamentavelmente negou à família do soldado Kozel, muito pobre, qualquer tipo de reparação.

 

CARLOS HENRIQUE ÂNGELO (BLOG DO CHA)