A epidemia das Bets: 25 milhões de brasileiros passaram a apostar nos últimos seis meses

28 de agosto de 2024 62

As consequências do vício dos brasileiros nas bets, as apostas esportivas on-line, vão além das dívidas acumuladas, da inadimplência e do nome negativado. Uma pesquisa inédita do Instituto Locomotiva e QuestionPro mostra como a dependência nas plataformas de jogos pode impactar na saúde mental dos brasileiros. O estudo, que ouviu 1.491 pessoas, mostra que 60% dos apostadores de bets reconhecem que os jogos afetam negativamente a saúde mental.

Nos últimos seis meses, 25 milhões de brasileiros passaram a apostar. Além do fácil acesso às plataformas digitais, o excesso de propagandas é uma espécie de isca para que cada vez mais brasileiros busquem nas apostas uma tentativa rápida de ganhar dinheiro. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, os números reforçam que o Brasil enfrenta uma epidemia das bets.

 

“É urgente a necessidade de regulamentar a publicidade das casas de apostas. Quando o país atinge os números que identificamos nesse levantamento, fica evidente que passou da hora do poder público agir na regulamentação para que o vício não prejudique a população. Isso ou teremos cada vez mais brasileiros endividados e com problemas relacionados à saúde mental”, alerta Meirelles.

103 milhões de brasileiros (67%) afirmam conhecer alguém já viciado nas apostas esportivas. Entre os apostadores, 22 milhões afirmam que é uma forma de escapar de problemas ou de sentimentos negativos, de acordo com o estudo. Três em cada dez apostadores (15 milhões de brasileiros) reconhecem que os jogos impactam nas relações pessoais.

“É necessário criar políticas que destaquem que jogo não é investimento. Principalmente para o público mais jovem, mais propenso a se deixar levar na esteira da recompensa imediata, para que não paguem um preço maior no futuro. As apostas desencadeiam uma variedade de emoções, desde a euforia das vitórias até a frustração das derrotas, impactando o bem-estar e as relações pessoais da população”, reforça Renato Meirelles.

O estudo também aponta que metade dos apostadores revelam sentir mais ansiedade durante as apostas. Além de gerar emoções imediatas, a prática tem consequências a longo prazo no estado emocional do jogador. Entre as alterações observadas pelos jogadores, metade deles (51%) destaca aumento de ansiedade depois que começaram a apostar; 28% se sentem mais eufóricos com os jogos; 27% alegam mudança repentina de humor; aumento de estresse foi identificado em 26% dos apostadores; 23% dizem se sentir mais culpados com os gastos; 10% sentem mais dificuldade na concentração e 6% passaram a ter dificuldades para pegar no sono.

Mesmo com os diferentes tipos de emoções causadas pelas apostas, metade (53%) dos jogadores afirma que o principal objetivo na interação com as plataformas é ganhar dinheiro; 22% alegam jogar apenas por diversão; a emoção e a adrenalina na hora do jogo são os motivadores para cerca de 10% dos apostadores; 7% joga para passar o tempo; 6% dizem ter curiosidade nas apostas e 2% dizem jogar para aliviar o estresse.

Ainda de acordo com o levantamento do Instituto Locomotiva, os apostadores relatam um equilíbrio entre perdas e ganhos. Um terço dos brasileiros afirma ter resultados neutros nas apostas. 37% (quatro em cada dez) afirmam terem mais ganhos do que perdas. Para 30%, as perdas ultrapassaram os ganhos no jogo. Entre aqueles que já ganharam algum tipo de aposta, dois a cada três (66%) usaram ao menos parte do valor em novas apostas.

A pesquisa mostra ainda que 54% dos jogadores revelam sentir algum tipo de emoção com as bets, como aumento de adrenalina. 41% dizem se sentir ansiosos com os resultados, 37% se sentem mais felizes quando apostam, 17% se sentem estressados, 11% sentem alívio, 9% alegam indiferença ou culpa e 6% dizem sentir tristeza.

Males Causados pelo Vício em Jogos

O vício em jogos pode levar a uma série de consequências negativas, incluindo:

Problemas Financeiros: Muitos apostadores acabam perdendo grandes quantias de dinheiro, o que pode resultar em dívidas, dificuldades financeiras e até mesmo em situações de insolvência.

Impacto Emocional: O vício pode causar estresse, ansiedade e depressão. Os indivíduos podem se sentir isolados e desesperados, à medida que suas vidas começam a girar em torno das apostas.

Relações Interpessoais: O comportamento compulsivo pode prejudicar relacionamentos familiares e amizades, levando a conflitos e afastamentos.

Saúde Física: O estresse e a ansiedade associados ao vício podem resultar em problemas de saúde física, como insônia, distúrbios alimentares e outras condições relacionadas ao estresse.

Como Sair do Vício

Superar o vício em jogos é um processo desafiador, mas é possível. Algumas estratégias incluem:

Reconhecimento do Problema: O primeiro passo é reconhecer que o vício existe e que é necessário buscar ajuda.

Definir Limites: Estabelecer limites financeiros e de tempo pode ajudar a controlar o impulso de apostar.

Buscar Apoio: Conversar com amigos e familiares sobre o problema pode proporcionar um sistema de apoio crucial.

Terapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem eficaz para tratar o vício em jogos, ajudando os indivíduos a entender e modificar seus comportamentos.

Grupos de Apoio: Participar de grupos como Jogadores Anônimos pode ser uma forma eficaz de encontrar apoio e compartilhar experiências com pessoas que enfrentam desafios semelhantes.

Onde Buscar Ajuda

No Brasil, existem várias organizações e recursos disponíveis para quem busca ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV): Oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio, com atendimento gratuito e sigiloso.

Jogadores Anônimos: Grupo de apoio que oferece reuniões e suporte para pessoas que lutam contra o vício em jogos.

Consultórios de Psicologia: Muitos psicólogos especializados em dependências podem oferecer terapia individual.

Hospital de Câncer de Barretos: Oferece um programa de tratamento para dependentes de jogos.

É fundamental lembrar que a recuperação é um processo que pode levar tempo, mas com o apoio certo e a determinação necessária, é possível superar o vício e reconstruir uma vida saudável e equilibrada.

 

Fonte: PAINEL POLÍTICO/ALAN ALEX