A REPETIÇÃO INOVADORA DE UMA VELHA HISTÓRIA

28 de agosto de 2021 419

O mundo nunca foi justo. Quando mais jovem acreditei na utopia de que a nossa geração, os nascidos na segunda metade do século XX, poderiam transformar o mundo num lugar de maior justiça social. Era um sonho das pessoas jovens e, grande parte de melhor formação da sociedade brasileira, muitos dos quais se embeberam de Marx, Engels, Gramsci, Marcuse e Jean Paul Sartre, que se apresentava como o intelectual engajado com  as causas sociais, acreditavam na capacidade de fazer mudanças rápidas. Havia a crença, pouco justificada cientificamente, de que seríamos capazes de mudar as condições sociais pela atuação dos intelectuais e pela conscientização dos trabalhadores. Olhando para trás não há como não sorrir da nossa ingenuidade. O conceito de classe social marxista em que nos baseamos-só os cegos pela ideologia-não conseguiram ver que se dissolveu pela realidade. Marx, que no fim da vida não era mais marxista-possivelmente torceria o nariz para uma infinidade de intelectuais que se dizem marxistas por repetir chavões sem nenhuma correlação com a realidade moderna. E olhe que Marx, apesar de seu indiscutível talento, depois de arrasar intelectualmente Bakunin ouviu dele a sua sentença definitiva quando confessou, com humildade, que não tinha condições de discutir com ele, mas, que, em compensação, Marx “não entendia nada da natureza humana”. Aliás, ele passou a vida inteira, praticamente, sem conseguir manter sua própria vida, o que, no mínimo, é constrangedor para quem se julgava capaz de tudo explicar. Há uma imensa quantidade de imitadores atuais-até mesmo sem saber. Principalmente jovens que não arrumam a própria cama, não se sustentam, não possuem formação intelectual, muitas vezes, nem exerceram qualquer tipo de trabalho, mas, se propõem a mudar o mundo. São os próprios homens que classificam os outros de mocinhos, bandidos, santos, medíocres, bons, ruins. Em geral, sem ter nem consciência da régua que usam para medir os outros e, menos ainda de que a história da humanidade tem sido uma história de vencidos e vencedores. Que o que fez o mundo avançar mais do que a educação foi o desejo de poder. E domar o egoísmo, o desejo de dominar, de poder dos homens é um processo, infelizmente, muito lento. É muito fácil julgar o passado e queimar, sem nenhum senso de ridículo e de falta de civilidade, a estátua de Borba Gato como se ele tivesse sido apenas um exterminador de índios, mas, a grande realidade é que a natureza humana mudou muito pouco, embora revestida de mantos mais elegantes. Esta aí, explodindo em nossos rostos, o problema do Afeganistão, que, no fundo, não é diferente das guerras de conquistas do passado (os escravos é que mudam). Nem do ambiente esfumaçado e obscuro do Brasil onde uma pandemia exacerbou a luta pelo poder sem nenhum respeito ao sofrimento dos mais pobres. E me espanta ver que pessoas que pensam que pensam tomar partido numa luta que só tem como vítima a população brasileira. Talvez, de vez que o mundo não mudou na sua essência, o que tem de novo na antropofagia brasileira é que os limites da capacidade de analisar estão totalmente perdidos e a nossa dita elite se comporta com o apetite dos conquistadores antigos.

 

 

Há 500, 400 anos, negros perdedores eram escravizados na África por outros negros vencedores de disputas territoriais e de supremacia. Depois de capturados, eram vendidos aos franceses, espanhóis, ingleses, holandeses e portugueses como mercadoria para servirem nas lavouras do Caribe, dos Estados Unidos, das colônias espanholas, holandesas e portuguesas. Não vou me meter a analisar a fundo a escravidão, porque não tenho nem 10% do conhecimento e do talento de um mestre como Laurentino Gomes. O que sei é que escravos e guerras de conquista sempre andaram de mãos dadas na História da humanidade...

Aqui não existiam mocinhos e bandidos, santos ou demônios, gente boa ou gente ruim. Eram seres humanos, nada mais. Querer destruir a memória desses tempos ou apagar nossa história é repetir o que os talibãs fizeram em Bamiyan, no Afeganistão, quando destruíram as milenares estátuas gigantes do Buda e relíquias exibidas em museus no Iraque. Há 300, 400 anos, viver aqui era uma aventura. Um homem de 40 anos era um ancião. As mulheres se casavam com 12, 13 anos e tinham 10, 12, 15 filhos. Imaginemos o Brasil dos anos 1600 ou 1700, com uma estreita faixa litorânea ocupada
por plantadores de cana,...


 

Fonte: SILVIO PERSIVO
A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO

Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com