Aécio diz que pediu dinheiro a Joesley porque estava “em um momento de dificuldades”

19 de dezembro de 2017 366

Pimentel e Marcio Lacerda provavelmente vão concorrer. Como será para o senhor, que esteve aliado aos dois na eleição de 2008, tê-los como adversários?
Mantenho uma relação civilizada com ambos, mas obviamente sou oposição ao que o governo Pimentel representa hoje. O prefeito Marcio Lacerda, que foi meu secretário, gostaria também, se possível, de vê-lo dentro dessa construção, mas não posso tirar de ninguém o direito legítimo de postular – e a informação que tenho recebido é que ele tem uma candidatura já colocada de forma mais definitiva. Mas não podemos fechar as portas a alguém da qualidade dele e que tenha essa contribuição importante no nosso período de governo.

 

Como o sr. está avaliando administração do prefeito Alexandre Kalil? Espera apoio dele na eleição?
A situação das prefeituras hoje não é fácil no Brasil inteiro. O custeio aumentou muito, as receitas vêm diminuindo, e vejo que ele vem fazendo um esforço para, ao seu estilo, enfrentar os problemas de BH. Respeito a administração, sempre me coloquei à disposição em Brasília, naquilo que pudermos ajudar a obter recursos, serei sempre parceiro de BH. Mas, até porque não o apoiei na campanha, não posso cobrar dele apoio. O que pretendo é, independentemente de qualquer posição dele na campanha eleitoral, continuar ajudando BH.

 

O anúncio da candidatura do senhor ao governo ou ao Senado teve reações negativas nas redes sociais. Como o senhor espera mudar isso?
Todos nós, homens públicos, temos que estar prontos para responder a quaisquer acusações que nos façam. Existe esse episódio específico (da delação de Joesley Batista), que quero andar por Minas e responder a ele, quando essa questão for levantada. Se cometi um erro – e admito que cometi, primeiro em um linguajar que não me é próprio em uma conversa privada, e segundo em um momento de dificuldades, porque depois de ter sido duas vezes governador de Minas e presidente da Câmara, não tinha recursos para pagar custos advocatícios da minha defesa – foi aceitar o empréstimo de alguém que se dizia meu amigo. Vou enfrentar isso com altivez, olhando nos olhos dos mineiros de forma muito clara. Porque, além de mim, os mineiros conhecem minha trajetória, sabem os governos que fizemos e da minha conduta. Por outro lado, recebo manifestações de apoio por onde ando. Em Brasília, estive essa semana com algumas dezenas de prefeitos pedindo que eu volte a Minas e estou organizando uma agenda de viagem a pelo menos 10 regiões do estado agora no começo do ano para conversar, ouvir meus companheiros e dizer que temos todas as condições de encerrar esse ciclo perverso do governo do PT.

O governo Pimentel atribui o enfrentamento da maior crise financeira do estado, com salários atrasados, sem condição de pagar o 13º, à herança do PSDB. Como o senhor rebate?
Isso é incompatível com os números, com a realidade de Minas. Eu próprio assumi o governo do estado em 2003 sem recursos para pagar folha salarial e acabei com 3 mil cargos comissionados na primeira semana. O governo do PT criou 2 mil. Eu priorizei os programas para os quais tínhamos recursos, eles pulverizam os recursos em programas que não chegam onde as pessoas estão. Isentei de ICMS mais de 250 produtos e o que ele fez foi aumentar o ICMS de inúmeros produtos. Acabei com impostos estaduais para residências que consumiam até 90 kw de energia/mês e o PT acabou com essa isenção. Mas os jetons da Cemig aumentaram em mais de 100% nesse período. É uma ausência de prioridades. Transferir responsabilidade é muito cômodo mas isso não podemos aceitar. O que houve aqui foi um descontrole absoluto. A situação de Minas é das mais caóticas hoje do Brasil.

(…)

O senhor espera ter o presidente Michel Temer no seu palanque?

Acho que o presidente Michel Temer não vai participar de palanques. E (a pergunta) é até uma oportunidade para repor algo que acho essencial para a compreensão do papel do PSDB em todo esse processo, porque dentro do próprio partido existem incompreensões. Vejo alguns gritando pela impopularidade do presidente e fora Temer; não temos nada com isso. Tinha um Brasil que não caminhava. Demos um apoio a essa agenda de reformas e nunca deixamos de dizer que o PSDB tem um projeto nacional. Agora é o momento de o PSDB defender seu projeto nacional sem se envergonhar de ter participado de um processo de esforço para retomada da economia. O PSDB ajudou na construção desse novo ambiente econômico, mas acho que um governo do PSDB, do ponto de vista nacional, é que pode alavancar essa retomada do crescimento de forma muito mais vigorosa que temos hoje.

Como explicar para o eleitor que o partido ficou no governo Temer até as vésperas das eleições e agora sai?
Apoiamos o Michel por responsabilidade com o Brasil. Apoiamos uma agenda que possibilitou a retomada do emprego, do crescimento, com inflação e juros mais baixos. Essa é a herança que vamos compartilhar na campanha eleitoral, porque sem o apoio do PSDB nada disso teria acontecido, até pela inserção do PSDB na sociedade. Se tivéssemos feito o que sempre faz o PT, se o PSDB tivesse se decidido em razão do seu interesse, podia ter deixado o governo Temer naufragar, mas quem naufragaria seria a população desempregada, as empresas fechando. Ajudamos nessa transição sempre dizendo esse não é o nosso governo, o nosso governo precisará ser eleito.

A candidatura do governador Geraldo Alckmin ainda não decolou. As pesquisas mostram Lula e Bolsonaro na frente. O PSDB pode se tornar coadjuvante nessas eleições?
Acho que não. O governador Alckmin precisará realmente fortalecer seu discurso e andar pelo país, mas há um espaço grande da construção de uma aliança ampla no centro, com o compromisso com essas reformas, porque só elas vão permitir ao Brasil voltar crescer, o resto é balela. A candidatura do Lula será sempre uma incógnita em razão dos problemas que ele enfrenta. Vejo na candidatura Bolsonaro, com quem tenho boa relação pessoal, uma manifestação muito mais de protesto contra tudo que está aí do que algo já preparado para um enfrentamento presidencial. Acho que aquela força de centro que conseguir aglutinar maior número de apoios e falar diretamente à população da necessidade de se reformar o Estado brasileiro é que terá maior chance.

Em relação à JBS, o senhor precisava do empréstimo e pediu a Joesley, mas por que o dinheiro foi entregue em uma mala?
Na verdade, e uma gravação que havia sido omitida por ele mostra isso, minha irmã ofereceu a Joesley um apartamento que já havia sido oferecido a quatro ou cinco empresários. Com o objetivo de obter sua delação, ele disse ‘não tenho interesse, mas empresto o dinheiro, quando venderem o apartamento você me paga’. Ele que fez questão de que fosse daquela forma, em dinheiro. Ele disse na gravação, ‘tem dinheiro das minhas lojas e eu vou te emprestar’, dinheiro privado. Obviamente, por que insistiu que fosse daquela forma? Para criar a imagem, fazer a fotografia e vender isso para a Procuradoria como estímulo aos benefícios que eles tiveram. Ele insistiu em que fosse dessa forma. Foi um erro aceitar. Foi a forma como ele propôs que eu pagasse os advogados. Agora, onde está o crime? Foi uma armação com conhecimento de membros do MP para que conseguissem sua delação. Em 24 de março, o sr. Joesley participa de uma reunião na PGR durante várias horas, assina um pré-acordo de delação, sai dessa reunião e vai fazer comigo essa gravação, que é um ato ilícito. E mesmo nessa conversa não conseguiu encontrar nenhum crime, tanto que a denúncia da Procuradoria não cita contrapartida nem crime algum.

(…)

Neste ano o sr. viu sua irmã ser presa e foi afastado do Senado. Qual foi o pior momento?

Essa, de todas as questões, foi a mais absurda, porque a Andrea, que Minas conhece pela correção absoluta, marcou um encontro com ele, a quem não conhecia, para oferecer um apartamento. Isso é corroborado por um telefonema em que ela o convida para conhecer o apartamento da minha mãe, que estava à venda e ponto. A participação dela é apenas essa. Foi levada de roldão em uma injustiça absurda. Acho que a Justiça vai reconhecer o final. Houve ali uma ação despropositada do MP em uma questão que o tempo vai mostrar que, se houve crime, ele não foi cometido por mim e muito menos por ela. E sim por esses empresários e, agora se sabe, com apoio e solidariedade de membros do MPF.