AINDA SOBRE AS CRIANÇAS, A PUTARIA, O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E AS DEMAGOGIAS ELEITOREIRAS

24 de junho de 2024 46

Paulo Francis, que foi um guru do pensamento crítico nas fileiras da esquerda até a fase do Pasquim mas depois se desencantou e descaracterizou de forma melancólica, dizia que o espaço das cartas de leitores na grande imprensa era qualificado pelos jornalistas profissionais de muro das lamentações, pois nenhum deles o levava a sério.

Eu, pelo menos, sempre respeitei os comentaristas, até porque devo já ter transformado em artigos pelo menos uma centena das respostas que dei a eles. 

Meus melhores textos e melhores falas costumam ser os que me vêm à mente no meio de uma argumentação, às vezes até contrariando a linha de pensamento que eu vinha seguindo. E nunca fui preguiçoso a ponto de desperdiçar o rumo que o artigo tomou sozinho só para não mexer um pouco no que já estava escrito.

Então, graças aos pertinentes comentários do SF ao meu artigo  sobre o antepenúltimo sincericídio desastroso do Lula, posso agora acrescentar um complemento àquele post que, espero, vá enriquecer a discussão que levantei. Tomara que os leitores concordem. (por Celso Lungaretti)

.

JÁ NÃO DÁ MAIS PARA BOTARMOS CRIANÇAS SOB UMA REDOMA

Essa imagem do menor de idade como anjinho assexuado foi feita em cacos há 119 anos, quando Freud publicou seu Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Temos é de preservar as etapas de amadurecimento sexual pelas quais passam as crianças, impedindo que adultos maliciosos as acelerem para locupletarem-se, traumatizando os pimpolhos.  

Já não dá mais para colocarmos crianças sob uma redoma, tentando vedar-lhe o contato com os conteúdos adultos. Não se deve nem se consegue censurar toda uma sociedade na era da internet.

Ainda no tempo das fitas VHS, uma amiga minha, voltando para casa numa tarde mais cedo do que o habitual, surpreendeu seus filhos e outros colegas de escola, todos numa faixa de 12 anos, assistindo a um filme de sadomasoquismo explícito que haviam retirado da videolocadora com a carteirinha paterna.

Quanto aos fundamentalistas religiosos, sua idealização da inocência infantil não passa de uma ilusão compensatória por eles saberem-se apodrecidos até a medula. 

Isso, aliás, me faz lembrar uma frase antológica do filme Exótica (1994), do Aton Egoyan, quando o comentarista de uma boate sofisticada pergunta à plateia, durante o número de uma stripper produzida como estudante: "Por que uma colegial nos parece tão fascinante, será porque ela tem a vida inteira pela frente enquanto nós já desperdiçamos as nossas?"

Levar essa gente a sério, nem que seja por demagogia eleitoreira como no caso do Lula, é absolutamente indesculpável para as pessoas civilizadas.

Retrocesso civilizatório só convém aos bárbaros. A frase do Lula me fez lembrar o Bolsonaro recomendando a cloroquina no auge da covid-19. (CL)

Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )