Augusto Aras, favorito para a PGR, criticou a Lava Jato e defendeu o MST

8 de agosto de 2019 344

O jornalista  Reynaldo Turollo Jr. entrevistou o subprocurador-geral Augusto Aras na Folha de S.Paulo.

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O sr. é candidato. Como é a campanha de quem corre por fora da lista? Nos últimos 15 anos, só foi procurador-geral quem figurou na lista. Isso revela algo que está embutido num sistema inadequado para a instituição, que promove corporativismo. Quando se prometem vantagens remuneratórias no particular ou mesmo in natura, como cursos no exterior, diárias, passagens, todas essas práticas importam no toma lá dá cá que vem sendo combatido pelo governo vigente.

Há interlocução de sua campanha com Bolsonaro? Diferentemente dos candidatos da lista, que estão a circular por todo o Brasil a promover jantares e encontros —cuja fonte de financiamento é desconhecida—, nós apenas apresentamos, esta semana, o nosso nome a colegas no MPF e a alguns amigos nos ambientes acadêmico, político, Judiciário, religioso. Isso significa que nós reconhecemos a autoridade do sr. presidente da República para indicar aquele que entender mais adequado.

 

Hoje há um racha profundo entre grupos, como o de Dodge, o de Janot, o da Lava Jato. Como o sr. vê esse racha? Eu sempre apoiei a Lava Jato, não como política de governo, [mas] como política de Estado. Ela não tem início, não tem fim, não tem personalização. O contrário disso importa em atrair também para a Lava Jato uma feudalização que modernamente se chama de aparelhamento. A Lava Jato precisa ser muito maior, avançar para todos os estados, municípios. Acima de tudo, sem personalismo, sem dono.

Críticos da operação falam que parte dos problemas econômicos vem dessas investigações. Como o sr. avalia o MPF no cenário econômico? A Lava Jato, com todas as suas virtudes, não cuidou, como cuidaram outros países, de preservar o mercado e a higidez da política. A Inglaterra enfrentou com Tony Blair a sua Lava Jato e puniu exemplarmente cidadãos estrangeiros, empresas estrangeiras, inovou legislativamente e preservou sua qualidade de praça financeira e econômica mais segura do planeta. Isso foi feito com respeito aos interesses dos seus nacionais.

Os Estados Unidos, em duas oportunidades, a última em 2008, também procedeu punindo exemplarmente as corporações, seus dirigentes. O Brasil, não. Houve a personalização da Lava Jato que resultou na debacle da economia nacional. Não se preservou o legado empresarial consistente na expertise e na organização desse conhecimento acumulado e, antes disso, atingiu a política partidária.

Não foi preservado o caráter necessário da política como única solução adequada para a vida em sociedade, ou seja, criminalizou-se a atividade política.

 

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PS do DCM:

Augusto Aras fez uma defesa enfática dos movimentos sociais, entre eles o MST, num discurso em 2008 na Câmara. Falando em nome da OAB na Comissão de Legislação Participativa, Aras protestava contra a criminalização dos movimentos sociais. “O MST, como movimento importante da sociedade brasileira, passa a ser, neste momento, alvo da ação, provavelmente, de uns poucos que infelizmente estão na cúpula de um órgão ministerial gaúcho e que representam, sim, uma reação a esse movimento social que trouxe maior politização às comunidades operárias e trabalhadoras”, disse na época.