AUTORIDADE E AUTORITARISMO EM SALAS DE AULA

27 de novembro de 2017 947

É fundamental, para o bom funcionamento do sistema de aprendizado, que o professor saiba manter sua autoridade e se faça respeitar pelos alunos. Mas para isso, não há necessidade de ser autoritário nem prepotente. Muitas vezes, aliás, os excessos de autoritarismo nada mais são do que sinais de insegurança e fraqueza... e os alunos logo se dão conta disso.

Assisti certa vez a uma conferência pomposíssima de uma professora famosíssima, numa instituição prestigiadíssima, para expor uma "abordagem nova" de um velho tema...
No final da "baladadíssima" sessão, quando foi aberta a palavra às perguntas, uma jovem aluna de pós-graduação, muito educadamente, pediu que a conferencista explicasse melhor uma coisa que ela não tinha entendido bem. Pediu que mostrasse o que havia de novo na abordagem inovadora, pois já era o que se fazia, naquela disciplina, havia mais de 30 anos. O objeto era o mesmo, o enfoque não variava, a metodologia era exatamente a mesma... só o nome e os recursos tecnológicos utilizados estavam mudando. Mas, notem, a menina não 
apresentou essa pergunta como algo desafiador ou como quem quer contestar, apenas perguntou. E ressalvou que era nova na área, que sua formação era insuficiente, que podia não ter entendido alguma coisa. Foi, em última análise, muito humilde.

No entanto, a imponente professora se sentiu ofendida, ou pelo menos assim pareceu, porque começou humilhando a menina?

A resposta foi uma longa digressão sobre seu currículo e sobre sua experiência na área, desde o mestrado que - fez questão de enfatizar - fora feito antes de a aluna sequer ter nascido... Discorreu, durante 10 ou 15 minutos, sobre seus títulos, sobre os livros que publicara, sobre as universidades estrangeiras em que estagiara etc. etc. E não respondeu ao central da questão, que a incomodava, obviamente. Fez-se um mal estar generalizado na sala, e ninguém mais perguntou nada. Perguntar, para quê?

Parece-me que atitudes dessas não são consentâneas com a de uma verdadeira professora e não contribuem para aumentar o prestígio de uma cátedra, seja universitária seja de ensino médio ou até fundamental. É claro que não se pode aprovar a contestação gratuita, pelo mero gosto de contestar, muito frequente entre adolescentes imaturos. Mas o professor tem que contar com isso e, sobretudo, não pode querer se impor pela mera autoridade. Há formas mais sutis e inteligentes de afirmar o princípio da autoridade. Poucas coisas dão tanta autoridade a um professor como reconhecer, diante dos alunos, que não sabe alguma coisa e que vai estudar melhor para responder na próxima aula. E até mesmo convidar os alunos a explorarem e pesquisarem, juntamente com ele, o tema da pergunta que não soube responder.

Quando eu lecionava para alunos de Ensino Médio, costumava provocá-los para que me questionassem. Eu dizia: - se um de vocês me fizer uma pergunta inteligente sobre a matéria que está sendo lecionada, darei um ponto a mais na média final: se a pergunta for tão difícil que eu não saiba responder e precise pesquisar para responder na aula seguinte, o aluno receberá dois pontos a mais; e se um de vocês notar um erro no que estou ensinando e souber apontá-lo e defender sua posição com argumentos sólidos, darei três pontos a mais.

Ás vezes, eu até brincava: - sabem o melhor modo de irritar um professor? Não é fazendo bagunça ou indisciplina na sala... O melhor mesmo é vocês estudarem antes a matéria que o professor vai lecionar na aula seguinte. Estudem, leiam, pesquisem, venham para a aula cheios de informações, dúvidas, perguntas, objeções e discutam com o professor com conhecimento de causa... e garanto que ele ficará irritadíssimo!

Isso é muito mais “gostoso” (e sobretudo muito mais formativo) para um aluno do que ficar infantilmente fazendo bagunça...

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.