Cadê o "Homem?"

A anedota mais conhecida sobre a vida do filósofo cínico Diógenes (412-323 a.C) é que ele andava pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa, em plena luz do dia, procurando um homem honesto. Se estivesse vivo, estaria procurando até agora, visto que o ser humano ainda não conseguiu se libertar completamente do instinto egoísta herdado dos primatas, pouco preocupados com a coletividade. Eu, que não sou filósofo e não uso lanterna, mas leio bastante sobre a condição humana e a política brasileira, há anos venho me perguntando se vai existir algum governante que possa ser considerado um "estadista", um político que, além de honesto, tenha uma visão do bem estar social, a médio e longo prazo, preocupado mais na construção de uma democracia justa e próspera do que na vaidade pessoal ou no enriquecimento ilícito.
O Editorial do Diário da Região (8/1) "Prejuízo como legado", com base numa reportagem do jornal carioca O Globo, mostra a enorme perda de dinheiro público causada pela Copa do Mundo de 2014. Os R$ 8,3 bilhões gastos pelo BNDES (banco público de investimentos) para a construção dos vários estádios (arenas), após 4 anos, além de não trazerem o retorno financeiro esperado, estão sangrando até agora o erário das cidades onde foram construídos, além do cofre do governo federal. A Lava-Jato está investigando os desvios do dinheiro público, mas nada irá justificar a irresponsabilidade do ex presidente Lula ao idealizar e encabeçar tamanho empreendimento, deixando ao povo brasileiro um legado de enormes prejuízos financeiros.
O mesmo diga-se de Juscelino Kubitschek, outro ex-presidente idolatrado pela fantasia popular. A ideia de construir Brasília para centralizar o poder federal no meio do nosso país, do tamanho de um continente, foi excelente, mas sua execução economicamente desastrosa. Não se constrói uma capital a partir do nada, sem infraestruturas. Precisava antes ter providenciado uma rede ferroviária que conectasse cidades do norte e do sul ao ponto central. Transportar pedras, mármores, cimento, outros materiais de construção e seres humanos por caminhões tornou a empreitada bem mais onerosa. O imperdoável erro de Juscelino, fruto de uma medonha falta de visão, foi ter sucateadas as estradas de ferro em prol do transporte rodoviário, mais lento, perigoso e poluente, na contramão do que estava acontecendo no Japão e na Europa que progrediram pelo uso de metrôs e trens-bala. Podemos sonhar que um dia o Brasil seja governado por estadistas honestos e eficientes, capazes de realizar as reformas necessárias para acabar com privilégios e nepotismo, usando o dinheiro público exclusivamente para o bem da coletividade?
Salvatore D' Onofrio
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
www.salvatoredonofrio.com.br
http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Salvatore_D%E2%80%99_Onofrio