Calor no mar sobe. Há novos peixes na costa

11 de abril de 2018 822

As vagas de calor no mar aumentaram em número e em intensidade ao longo do século passado, em resultado direto do aquecimento global, revelou um estudo ontem publicado pela revista Nature Communications. Entre 1926 e 2016 a frequência de vagas de calor da água do mar aumentou 34% e a duração de cada onda de calor aumentou 17%, o que se traduz num aumento de 54% do número de dias de temperaturas acima do normal no mar em cada ano, segundo o estudo.

O impacto nos ecossistemas já está a ser evidente. "Registou-se um aumento da temperatura média dos oceanos na camada superficial, até 700 metros de profundidade, da ordem de 1 grau celsius. No caso de Portugal há espécies de peixes que gostam de águas quentes e que aparecem agora na nossa costa, como o peixe lua", comentou ao DN Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "Mas o aquecimento das águas pode ser uma ameaça para espécies como a sardinha ou o peixe pau, que gostam de águas mais frias".

Este aquecimento contínuo das águas do mar há um século está a fazer com que, em determinados dias do ano, o Oceano Atlântico possa fazer lembrar o Mar Mediterrâneo com as suas águas cálidas. "Não é necessariamente negativo para a pesca. Podem vir para a nossa costa espécies de peixes de águas mais quentes que até sejam economicamente mais rentáveis", observa Filipe Duarte Santos.

Consequências a todos os níveis

O estudo publicado na Nature Communications também "descobriu que desde 1982 houve um assinalável aumento da tendência de vagas de calor marinhas",disse o principal autor do estudo, Eric Oliver, da Universidade de Dalhousie, Canadá. "Se bem que podemos desfrutar das águas quentes quando vamos à praia, essas ondas de calor têm impactos significativos nos ecossistemas, biodiversidade, pesca, turismo e aquacultura. Há muitas consequências económicas profundas que andam de mão dada com esses eventos", sublinhou.

O estudo foi feito por investigadores do ARC - Centro de Excelência para os Extremos Climatéricos, um consórcio que junta cinco universidades australianas e uma rede de organizações da Austrália e de outros países, e o Instituto de Estudos Marinhos e Antárticos, um centro de investigação da Universidade da Tasmânia, também na Austrália. Os investigadores usaram dados fornecidos por satélite e outros recolhidos por navios e estações de medição terrestre.