Cartola afirma que crise argentina tem componente político

ALEX SABINO – Em todos os telefonemas que atendeu desde quinta (21) à noite, Claudio Tapia, presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino) disse ver a crise que tomou conta da seleção na Copa do Mundo da Rússia apenas como uma questão esportiva. Tem um componente político. A partir da derrota para a Croácia, o futebol do país viveu três dias surreais no meio da Copa do Mundo.
“Muitos escreveram mentiras. Vocês [jornalistas] foram a quatro, cinco mundiais graças a eles [jogadores]. É hora de demonstrar que são argentinos. Assim, muito bom dia, passem bem porque precisamos tratar do tema esportivo, que é tudo o que queremos”, disse Tapia em um pronunciamento em Bronnitsi (55 km de Moscou), onde a delegação está hospedada durante o torneio.
Apenas os fatos assumidos como verdadeiros já seriam suficientes para deixar a seleção em frangalhos. Como a busca para os motivos da melancolia de Lionel Messi, por exemplo.
Integrantes da comissão técnica e funcionários da AFA ficaram atônitos como o camisa 10, maior craque argentino, ficou abatido após perder pênalti no empate com a Islândia. Trocaram opiniões sobre o que era possível fazer para animá-lo. A seleção precisará dele.
Na terça (26), a Argentina enfrenta a Nigéria em São Petersburgo. Precisa ganhar para se classificar. A vaga estará garantida se a Islândia não derrotar a Croácia, no mesmo dia. Mas se isso acontecer, a segunda posição será disputada pelas duas equipes nos critérios de desempate. O primeiro é o saldo de gols.
Foi esta a luta que sobrou para o time de Sampaoli depois da derrota por 3 a 0 para os croatas, na quinta. A situação seria ainda mais dramática se a Nigéria não tivesse derrotado os islandeses.
Isolados em Bronnitsi, um grupo de jogadores está descontente com Jorge Sampaoli. A queixa é que o treinador é inseguro demais e faz muitas mudanças. Entre o primeiro e o segundo jogo, mudou três jogadores (entraram Mercado, Acuña e Pérez) e trocou o sistema, optando por um 3-4-3 que havia sido praticado apenas três vezes no centro de treinamento em Bronnitsi.
Há a queixa quanto ao tratamento de Pavón, que teve motivos para acreditar que seria titular contra a Croácia e permaneceu no banco de reservas. Lo Celso fez a preparação inteira para o torneio com a certeza que seria o segundo volante, ao lado de Mascherano. Ainda não jogou no Mundial.
A roupa suja foi lavada em uma reunião na sexta (23) em que alguns atletas falaram. Nenhum tanto quanto Javier Mascherano. O pedido foi feito: estava na hora de não apostar em fórmulas nunca testadas.
“Isso acontece em qualquer equipe do mundo. Sempre o técnico vai buscar o consenso e vai querer saber o sentimento [dos jogadores] dentro de campo. Se uma equipe não está acostumada a pressionar, não pressiona. Esse tipo de coisas não é impor nada. É chegar a um acordo coletivo onde se sente melhor o grupo”, explicou o cabeça de área.
Sampaoli concordou com todas as reivindicações, o que pode provocar uma estrutura tática mais simples e de fácil adaptação para os atletas, como o 4-4-2 ou o 4-3-1-2.
Ele reconheceu para o seu fiel escudeiro Sebastian Beccacece e a outros auxiliares que pode ter complicado as coisas demais na busca por uma formação que deixasse Messi o mais à vontade possível em campo.
Tudo isso no meio do Mundial que pode ser o último da carreira do camisa 10.
A partir da derrota em Nijni Novgorod para a Croácia, a seleção argentina virou uma central de boatos. Histórias que passaram pela vida conjugal de Messi, uma suposta briga entre Mascherano e Pavón, a intervenção de Claudio Tapia, tornando Jorge Sampaoli uma figura decorativa na seleção e a possibilidade de Jorge Burruchaga, autor do gol do título de 1986 e integrante da comissão técnica, assumir o comando na última rodada.