Cenário nacional com inflação, juro em alta e crise energética traz incertezas, aponta Boletim de Conjuntura do DEE

30 de setembro de 2021 186

Após um primeiro semestre de recuperação da economia gaúcha, com números positivos na safra agrícola e avanço na vacinação e redução do isolamento social decorrente da pandemia do coronavírus, as perspectivas econômicas para o próximo período seguem cercadas de incertezas. O cenário nacional, com inflação alta, aumento de juros e efeitos da crise energética, surge com fatores que colaboram para o quadro de indefinição.

A análise do Boletim de Conjuntura, divulgado nesta quinta-feira (30/9) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), leva em conta indicativos globais e os dados mais recentes sobre o desempenho da indústria, das vendas no comércio, dos serviços e também a evolução da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de receita do governo estadual.

O documento de análise conjuntural produzido pelos pesquisadores Vanessa Sulzbach, Fernando Cruz, Martinho Lazzari e Tomás Torezani ressalta também o baixo peso da agropecuária na economia gaúcha no terceiro trimestre do ano – após forte recuperação no primeiro semestre –, as dificuldades do setor industrial – que tem apresentado desaceleração nos últimos meses – e a trajetória de recuperação nos segmentos de serviços e comércio.

"As perspectivas para a economia do Rio Grande do Sul são heterogêneas e cercadas de incertezas. A vacinação, o retorno gradual de atividades e a retomada da produção da GM são pontos positivos, contudo a pressão inflacionária, o alto custo de transporte interno e externo, e risco de recrudescimento da pandemia e de crise energética são contrapesos importantes à continuidade da recuperação", avalia Vanessa Sulzbach, coordenadora do estudo

Cenário internacional

O fortalecimento das atividades econômicas pressionou a inflação na maioria dos países no segundo trimestre do ano, um reflexo ainda da escassez de produtos em escala global, destaca o Boletim.

O fenômeno deve impactar as nações de forma diferente. Enquanto nas economias avançadas a perspectiva é por um processo temporário de elevação dos preços, fruto da maior capacidade para implementar medidas fiscais e monetárias, nas economias emergentes – como Brasil e países da América Latina – a situação fiscal mais apertada não permite a mesma previsão.

Enquanto isso, o atual patamar elevado dos preços das commodities deve gerar duplo efeito para o Brasil. A alta de produtos como o petróleo segue pressionando a inflação, mas o aumento no valor de produtos agrícolas beneficia países produtores. "No caso específico do Rio Grande do Sul, a valorização, sobretudo da soja, tem efeito positivo na economia interna via renda do produtor", destaca Vanessa.

Cenário brasileiro e local

Ainda que o Auxílio Emergencial, o avanço da vacinação e a redução do isolamento social tenham auxiliado a economia no segundo trimestre do ano, o Brasil foi um dos poucos países a não conseguir registrar taxas positivas de crescimento da economia em relação ao primeiro trimestre de 2021, juntamente com nações como Argentina, Colômbia, Índia e Canadá.

O documento do DEE/SPGG faz alerta para a alta generalizada de preços (inflação de 9,7% no acumulado de 12 meses em agosto) e para as incertezas sobre a capacidade do país em reduzir sua dívida, hoje em níveis elevados. "O patamar da dívida pública pode continuar pressionando o câmbio, mesmo depois da elevação dos juros básicos da economia. Esse mecanismo, em última instância, afeta os preços internos via repasse dos custos e pressiona a inflação", afirma Vanessa.

Quanto ao cenário local, o Boletim destaca a recuperação da safra agrícola do Rio Grande do Sul em 2021, após um ano de estiagem em 2020, e os preços elevados dos principais produtos agrícolas, que podem gerar gastos nos setores do comércio, serviços e indústria.

Em relação a esses setores, as perspectivas pouco se alteraram em relação ao último estudo, publicado em junho: serviços e comércio seguem com indicadores mensais apontando para recuperação lenta, enquanto a produção industrial apresenta queda na comparação com os períodos imediatamente anteriores.

Boletim de Conjuntura

O documento elaborado pelos técnicos do DEE/SPGG analisa as questões mais importantes da conjuntura internacional, nacional e regional, com foco no Rio Grande do Sul, e aponta perspectivas para o próximo período

Texto: Vagner Benites/Ascom SPGG
Edição: Marcelo Flach/Secom

Fonte: Secom Rio Grande do Sul