Cirurgias estéticas malfeitas fazem vítimas no DF e país afora

Corrigir imperfeições do corpo com cortes e agulhadas é uma escolha que pode custar mais caro do que o previsto. São procedimentos invasivos que, se feitos de maneira inadequada ou por profissionais despreparados, podem representar alto risco à vida. As recentes prisões do médico Denis Cesar Barros Furtado, o “Dr. Bumbum”; e de Patricia Silva dos Santos, que se identificava como “Paty Bumbum”, reacenderam o debate sobre os limites da busca pelo corpo perfeito. A vaidade pode matar.
O “Dr. Bumbum” foi indiciado por homicídio doloso qualificado pela morte da bancária Lilian Calixto, 46 anos. Já “Paty Bumbum” acabou detida por exercício ilegal de medicina. Mesmo sem formação profissional, ela fazia aplicação de silicone industrial nas nádegas das pacientes com seringas de uso veterinário. As prisões ocorreram no Rio de Janeiro, mas não faltam casos semelhantes país afora. Muitos deles, fatais.
A beleza de Lanusse Martins Barbosa ficou conservada nas muitas fotografias guardadas pela mãe, Graça, na casa onde mora, no Lago Norte. Aos 27 anos, a jovem fez mais de 10 orçamentos para escolher o médico responsável por sua segunda cirurgia plástica, uma lipoaspiração.
A operação chegou a ser marcada com o primeiro médico, que havia colocado suas próteses de silicone nos seios. Por indicação de uma amiga, a cirurgia foi marcada com outro profissional, Haeckel Cabral Moraes.
Graça levou a filha para o hospital e aguardou por mais de duas horas até receber notícias. Durante o procedimento, Lanusse precisou ser reanimada. Depois de várias tentativas, se foi. Deixou um filho, na época com 7 anos. A morte, em 21 de janeiro de 2010, está presente todos os dias na vida da mãe.
Os artigos religiosos expostos na sala de casa mostram que Graça é uma mulher de fé. Mas, para ela, a morte da filha não estava nos planos de Deus.
Também foi essa a conclusão 4ª Vara Cível de Brasília. Apesar da condenação em primeira instância, oito anos depois, a família ainda não recebeu nenhum tipo de indenização. Haeckel Cabral Moraes continua atuando, com registro no Distrito Federal e em Minas Gerais.
Em sua defesa, o médico alegou que a morte foi uma fatalidade causada, segundo ele, possivelmente por problemas cardíacos da paciente ou embolia gordurosa. Haeckel também ressaltou que agiu em conformidade com as recomendações preconizadas pela ciência médica.
Processo se arrasta há quatro anos
A família de Railma Rodrigues Soares de Siqueira enfrenta situação semelhante. Dias após a plástica feita numa clínica em Taguatinga, a mulher de 32 anos passou mal, entrou em coma e teve falência dos órgãos.
A morte cerebral foi confirmada em maio de 2014. A irmã, Rosimeire Rodrigues Soares, afirma que houve negligência. Quatro anos depois, o processo, que corre em segredo de Justiça, segue em tramitação.
Rosimeire lamenta a perda e a demora em ver um desfecho. “Fomos enganados. Nós tínhamos condições de transferi-la para o melhor hospital de Brasília a qualquer momento se tivessem falado para a gente que ela não estava bem. Esse é o alerta maior: se existe um sintoma, se achar que deve recorrer ao hospital, vá”, orienta a irmã.
Railma Rodrigues Soares de Siqueira teve morte cerebral aos 32 anos em decorrência de uma lipoaspiração
“Dr. Bumbum” também fez vítimas em Brasília
O desejo de ficar mais bonita pelas mãos do médico Denis Furtado, que colecionava seguidores em redes sociais, fez com que a bancária Lilian Calixto se deslocasse de Cuiabá ao Rio de Janeiro.
O “Dr. Bumbum” já tinha o registro profissional cassado no Distrito Federal, não tinha especialização reconhecida pelo Conselho Regional de Medicina da capital (CRM-DF) e fazia fazia bioplastias de forma clandestina. Horas após o procedimento, realizado numa cobertura na Barra da Tijuca, Lilian morreu.
Após a fatalidade, outras pacientes do “Dr. Bumbum” contaram suas histórias. Uma moradora de Brasília, que pediu para não ser identificada, foi orientada a fazer a cauterização da ferida aberta durante o procedimento com uma tesoura quente.
A recomendação médica foi passada por áudio do WhatsApp. O conteúdo foi revelado pelo Metrópoles. Confira:
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