Close no contracheque mixuruca, nos olhos roxos e no nariz sangrando do professor: um filme que ninguém quer ver
O monitoramento e a patrulha sobre o profissional mais desprestigiado do Brasil
Porto Velho, RO – Talvez não fosse tão absurdo imaginar um amontoado de câmeras e microfones dentro de uma sala de aula, captando tudo em tempo real sob todos os ângulos possíveis.
De repente seria a única maneira de expor as feições, a postura e a exteriorização das dificuldades enfrentadas por profissionais da área de educação no Brasil inteiro.
Um plano detalhe nos números pelpérrimos do contracheque; outro aberto para mostrar bolas de papel voando lá e cá, os bagunceiros desordenando o ambiente tanto em pé quanto sentados e até o close sangrento quando o punho do aluno rebelde resolve acertar despretensiosamente a fuça do professor.
O olho roxo causado pelo moquetaço subsequente, inclusive, é de graça, dispensa o trabalho da equipe de maquiagem.
Luz, câmera, ação...
Para alcançar a perfeição, o diretor repete cada take de trinta a cinquenta vezes revivendo as cenas de pancadaria com mais dor, angústia e desespero.
Nesse contexto quase cinematográfico, o roteiro pode – e deve – abusar da metalinguagem já que não basta às pessoas a explicação pura e simples dos fatos; logo, o protagonista tem de parar tudo, olhar fixamente à lente e esclarecer tintim por tintim como e por que chegou ao estágio onde pingos rubros se misturam à graxa dos seus sapatos e escorrem pelos sulcos do assoalho amadeirado.
Assim, o filme fiel do começo ao fim seria colocado à apreciação de um crivo popular justo com pontos e contrapontos.
Talvez até levasse um Oscar, quem sabe?
Se a intenção contemporânea é mesmo monitorar e patrulhar os já tão maltratados educadores brasileiros cujos salários nos ensinos Fundamental e Médio só ultrapassam a marca remuneratória na Indónesia – levando em conta uma análise sobre 40 países – acredite se quiser, a primeira coisa a fazer seria aferir o pulso e verificar a pressão de uma carreira moribunda, relegada ao esquecimento pelo poder público e jogada às traças pela população.
A realidade nua e crua de quem exerce a cátedra é um longa-metragem que ninguém quer assistir: nem de graça, muito menos pagando ingresso.
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VISÃO PERIFÉRICA
POR: VINICIUS CANOVA