Custos laborais vão ter a subida mais fraca desde o tempo da troika

Os custos unitários do trabalho de Portugal, uma medida das condições competitiva do país, vão ter uma evolução muito fraca em 2018 e 2019, estima a Comissão Europeia. Esta dinâmica de contenção nos custos das empresas ajuda a explicar em parte a força das exportações nacionais. Embora desacelerem, estas vão ter a terceira maior subida da zona euro nos dois anos em análise (6,8% em 2018 e 5,5% no ano que vem). Estas marcas apenas serão superadas pela Eslovénia e a Eslováquia, com crescimentos de 8,1% e 7,1%, respetivamente.
De acordo com as novas previsões da primavera, a subida média ficará em torno dos 1,4%, abaixo da média Europeia (cerca de 2%) e de algumas economias das já referidas do leste europeu, concorrentes diretas de Portugal na captação de investimentos e no comércio internacional. Fonte: Comissão Europeia e cálculos DV Mesmo com os aumentos do salário mínimo e a política da reposição de rendimentos dos últimos anos, os custos laborais portugueses (nominais) parecem estar em franca desaceleração. Cresceram 2,1% em 2016 e em 2017 avançaram apenas 1,7%. Este ano, Bruxelas espera um aumento de 1,5% e em 2019 o ritmo baixa para 1,2%, que será assim o valor mais baixo desde 2015, o primeiro ano do país fora do programa de ajustamento da troika. Nesse ano estagnaram. Em 2014, sofreram uma quebra de 1,3%. Fonte: Comissão Europeia Anteontem, a Comissão Europeia deu o mote, mostrando-se relativamente tranquila quanto às pressões salariais na economia portuguesa. E explicou porquê: “É provável que o aumento do salário médio da economia como um todo seja parcialmente compensado por uma forte criação de emprego em atividades com salários abaixo da média”. A equipa da Comissão que monitoriza o pós-programa de ajustamento também observa que o forte crescimento do emprego que tem marcado a retoma portuguesa está “particularmente relacionado com o turismo, a construção e a indústria”. Depois diz que a dinâmica moderada dos salários é bem explicada pelo facto de “a maioria das novas contratações terem acontecido em sectores com perfis de baixas qualificações e salários abaixo da média“. Este ambiente de moderação nos custos laborais, em parte nos salariais, contribuiu para manter um impulso importante nas exportações. No entanto, a Comissão destaca que o crescimento dos salários, embora baixo, estará a refletir o “descongelamento das progressões das carreiras no sector público”. De resto, a Comissão assume que, além das exportações, também o emprego não sai prejudicado nesta conjuntura, deve evoluir com mais força do que estima o governo. É certo que a criação de postos de trabalho vai desacelerando (como a economia e as restantes componentes do PIB), mas ainda assim Bruxelas aponta para uma criação de 383 mil empregos na legislatura (2016-2019). Os economistas que analisam Portugal dizem no novo estudo da primavera que “projeta-se que as exportações e as importações cresçam a um ritmo similar em 2018 e 2019, mantendo a balança corrente [excedente] relativamente estável num intervalo de 0,5% a 0,6% do produto interno bruto (PIB)”. Turismo e sector automóvel bem O ano de 2017, como é sabido, foi notável em termos turísticos e por essa razão este ano é esperada alguma moderação no sector. Mesmo assim, “apesar de algum abrandamento, o turismo deverá continuar a ser o principal motor da balança externa do país”, observa agora a Comissão. Outro sector em destaque é o automóvel. Bruxelas congratula-se com a “recente expansão na capacidade produtiva no sector automóvel” e acredita que isto vai “influenciar ainda mais as dinâmicas comerciais em 2018, contribuindo para ganhos assinaláveis de quotas nos mercados de exportação”. Ainda ontem, a alemã Bosch, um fornecedor de referência de outras marcas, como as do grupo PSA (Peugeot e Citroën), BMW, Audi e Nissan, revelou que as suas vendas em Portugal aumentaram 37% em 2017, totalizando 1,5 mil milhões de euros. A Bosch tem quatro operações no País, sendo a fábrica de Braga a mais importante (68% da faturação total no território. Este grupo alemão fabrica painéis de instrumentos para carros e motas de diversos fabricantes. Banco de Portugal acompanha Bruxelas O Banco de Portugal acompanha a Comissão no seu diagnóstico. Espera uma “uma aceleração moderada dos preços e dos salários nominais, num quadro de redução gradual das margens disponíveis no mercado de trabalho e na capacidade produtiva”. Na mais recente análise sobre a economia portuguesa, o banco central observa também que “o consumo privado deverá continuar a crescer de forma moderada, refletindo a melhoria no mercado de trabalho, a manutenção de níveis de confiança elevados e o crescimento contido dos salários reais, permanecendo condicionado pela necessidade de redução do nível de endividamento das famílias”.
Fotografia: EPA/TIAGO PETINGA