Denúncia: foco de contaminação no HB

23 de janeiro de 2020 555

Lavanderia do HB pode tirar Fernando Máximo da corrida eleitoral

Uma bomba herdada de administrações anteriores - indefectível espólio maldito do governo Confúcio Moura - pode transformar em pesadelo o sonho que, especula-se, vem sendo cuidadosamente acalentado pelo bem avaliado secretário de estado da Saúde, médico Fernando Rodrigues Máximo: candidatar-se à Prefeitura da capital com o apoio do governador Marcos Rocha. É óbvio que ele vai negar a ambição eleitoral, mas o gargalo existe e está instalado no Hospital de Base: um fortíssimo foco potencial de infecção hospitalar. Isso, sem contar a gravidade da contaminação ambiental produzida pela dispendiosa lavanderia, que processa - e mistura - também a lavagem das roupas do JP-II e Cosme & Damião. E despeja mais de cem mil litros diários da água contaminada em um igarapé próximo.

 

O secretário, a bem da verdade, já encontrou o problema instalado e, se dele não tomou conhecimento até agora, há que se creditar responsabilidade à absoluta negligência dos setores da sua própria secretaria, bem como da Sedam. Tanto a Vigilância Sanitária do estado como a fiscalização ambiental da Sedam, extremamente rigorosos nas relações com a iniciativa privada, agem com cautela e leniência no trato com a administração pública.  Mas Fernando Máximo agora sabe, a partir das denúncias veiculadas pelo radialista Fábio Camilo e confirmadas pelo professor de Química, Cláudio Almeida, sobre focos de contaminação na lavanderia hospitalar rede pública de Porto Velho. E a população também sabe e se apavora com a perspectiva de buscar algum tratamento na rede pública e sair de lá infectada com um mal maior, que muitas vezes se manifesta somente tempos depois.

 

O Blog do CHA  já levantou o problema há alguns anos. A denúncia foi levada ao então secretário Williames Pimentel logo no início das providências para a instalação da lavanderia em um pavilhão do HB. Ele atribuiu a decisão às exigências do Tribunal de Contas e do Ministério Público, como forma de evitar riscos de corrupção no setor. Mas com certeza deixou de se cercar dos necessários cuidados técnicos. Foram instaladas máquinas de lavar caríssimas, mas todas de 200 quilos, O resultado acabou por comprometer a seleção, na origem, das roupas, já que as máquinas não operam com eficácia em volume menor.  Também deixou de ser instalada uma caldeira, para aquecer a água usada na lavagem, e calandra para passar os enxovais, fundamentais para o processo de desinfecção. Para completar, foram selecionados, para operar o sistema, servidores da própria Sesau, sem a capacitação técnica necessária.

 

O resultado disso tudo foi o desastre que hoje se observa. Enxovais manchados, com vida útil reduzida ao mínimo, custo operacional elevado e funcionalidade nenhuma. A ponto de cirurgias serem com frequência canceladas por falta de enxovais adequados. O sistema usa quatro máquinas para secagem de roupas, com capacidade para processar 80 quilos, para uma demanda estimada de 4 mil quilos. Cada secadora possui 36 resistências, que consomem unitariamente 2,5 kWh, o que equivale ao consumo de um aparelho de ar de 12 mil BTUs. Imagine-se o consumo de energia de 114 aparelhos desses trabalhando o dia todo. Se a proposta original é combater a corrupção, não sairia mais em conta para o erário investir em gerenciamento e fiscalização mais capacitados?

 

Mas a gravidade da batata quente servida à mesa do secretário, com potencial para comprometer, justamente em ano eleitoral, o trabalho do governador, pela repercussão que, com certeza, haverá de chegar a Brasília, vai além de custos, pois o que está sob sério risco é a saúde da população. Vale lembrar a recomendação da Anvisa no estudo sobre Processamento de Roupas de Serviços de Saúde - Prevenção e Controle de Riscos: "O processamento de roupas de serviços de saúde é uma atividade de apoio que influencia grandemente a qualidade da assistência à saúde, principalmente no que se refere à segurança e ao conforto do paciente e do trabalhador. Daí a preocupação em relação aos riscos existentes e à necessidade de um maior controle sanitário das atividades ali realizadas".  

 

 

CARLOS HENRIQUE ÂNGELO (BLOG DO CHA)