Destituição de Aécio da presidência não redimirá PSDB

19 de outubro de 2017 939

Lula Marques/Agência PT

 

 Ninguém bateu panelas mas o desgaste do PSDB com a salvação do mandato de Aécio Neves bateu fundo no partido,  que saudou o retornante com a defesa de sua renúncia definitiva à presidência da sigla. Tasso Jereissati, interino desde maio, não falou sozinho. Foi porta-voz de uma confabulação interna entre os tucanos, no sentido de que teriam fazer alguma coisa para mitigar o estrago e afastar a idéia de que o partido juntou-se com Temer numa operação casada para salvar Aécio e depois ajudar a enterrar a segunda denúncia na Câmara.   Tasso defendeu também a abertura de processo contra o colega no Conselho de Ética, onde ele disporia das “melhores condições para apresentar sua defesa”.  Medidas incoerentes e inúteis, pois mesmo que Aécio venha a renunciar à presidência nas próximas horas, após ser pressionada na reunião convocada por Tasso,   a corrosão da imagem do partido parece irreversível.  Já era grande, por conta do papel dos tucanos no golpe, e só fez ampliar-se com a rejeição das medidas cautelares impostas a Aécio pela segunda turma do STF.

         Segundo pesquisa Datafolha, em setembro o PSDB tinha a preferência de apenas 4% dos entrevistados, contra 19%  que preferem o PT, por exemplo. Ou seja, o partido consegue ter uma aprovação ainda menor que a de Temer, o presidente 5%,  que ajudou a colocar na presidência da República com o golpe contra Dilma.

         Com uma taxa zero de coerência, os tucanos não convencerão seus eleitores ou simpatizantes de que falam sério quando, depois votarem unidos contra a punição imposta a Aécio, pedem que ele deixe a presidência do partido. Como pode Tasso dizer que ele “não tem condições”  de presidir a sigla se toda a bancada achou que ele tinha condições para continuar exercendo o mandato, livre das imposições do STF? O único que não votou foi Ricardo Ferraço, que está em viagem ao exterior, e reagiu declarando-se envergonhado.  “Vou me licenciar do mandato. Estou com vergonha de ser político”.

         Bobagem também, pois Ferraço participou de todas as outras votações que ajudaram a minar a base eleitoral do PSDB: impeachment, reforma trabalhista, PEC 95 e outros desatinos cometidos pelo governo Temer. O que os tucanos estão experimentando no lombo é a volta do cipó de aroeira que usaram contra o PT.

A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br