DETALHES E ENTRE ASPAS

25 de fevereiro de 2018 790

Se há uma coisa que anda fora de moda é a “amizade”.

Não falo desses inúmeros pseudoamigos com os quais se curte e compartilha, salvo raríssimas exceções, superficialidade.

Pouca gente, a essa altura, na verdade, compreende o que eu digo.

Mas, toda gente, naturalmente, pensa compreender. Ou apenas, por orgulho, não dá o braço a torcer.

E torce, por isso, para o mundo acabar mesmo em barranco, pois, se depender de alguma amiga mão... babau!

O conceito de tudo anda torto. Então, por que não os de “amizade” e “compreensão”? São os fatos...

Vamos a um deles: material escasso, peça de museu, babado antigo, do tempo do onça é o tal amigo de fato!

Particularmente, sempre tive poucos e caros.

Hoje, a maioria é só lembrança. O que nos leva a... elementar, meus caros, menos amigos ainda.

Pode-se chamá-lo de “seleção natural”. A natureza cuida de fazê-la.

Lembro-me, por exemplo, de uma queridíssima amiga que, não sei por que cargas d’água, tomou para si que fiquei “famosa”.

Aí sumiu. Antes que eu, graças à suposta fama, desaparecesse.

Preferiu, talvez, antecipar-se à perda para, quem sabe, dela tirar alguma vantagem.

Não guardo mágoa não. Ao contrário. Guardo belas e caríssimas lembranças! Ô, se guardo!

É claro que fica uma pontinha de tristeza...

Hoje mesmo, agorinha há pouco, quando tirei o pão doce, receita nova, do forno... hummm... aquele aroma de coco e baunilha que chegava a derreter até as firmes paredes azulejadas (modéstia à parte) me trouxe à mente certas tardes.

E que certas! Deliciosas tardes regadas a chá gelado cujas folhas colhíamos na hora.

Outra amiga (estou voltando no tempo, retrocedendo a cada citação de amizade), quando queria dizer que odiava algo, dizia: “ai, como eu ódio isso!”.

E eu tinha comigo que devia ser um sentimento colossal, digno do uso insólito do substantivo.

Outra, minha primeira amiga de infância, dizia com propriedade desde a mais tenra idade: “é nas brincadeiras que a gente diz as maiores verdades, sabia?”.

Tenho saudades dos bonitos olhos dessa, do sorrisão largo da outra, e do abraço sincero da outra.

Tenho “saudade”. Guardo-a a sete chaves.

Afinal, fora os detalhes e entre aspas, é o que em suma fica.

Viver é pra lá de efêmero!!!

 

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br