DETALHES E ENTRE ASPAS
Se há uma coisa que anda fora de moda é a “amizade”.
Não falo desses inúmeros pseudoamigos com os quais se curte e compartilha, salvo raríssimas exceções, superficialidade.
Pouca gente, a essa altura, na verdade, compreende o que eu digo.
Mas, toda gente, naturalmente, pensa compreender. Ou apenas, por orgulho, não dá o braço a torcer.
E torce, por isso, para o mundo acabar mesmo em barranco, pois, se depender de alguma amiga mão... babau!
O conceito de tudo anda torto. Então, por que não os de “amizade” e “compreensão”? São os fatos...
Vamos a um deles: material escasso, peça de museu, babado antigo, do tempo do onça é o tal amigo de fato!
Particularmente, sempre tive poucos e caros.
Hoje, a maioria é só lembrança. O que nos leva a... elementar, meus caros, menos amigos ainda.
Pode-se chamá-lo de “seleção natural”. A natureza cuida de fazê-la.
Lembro-me, por exemplo, de uma queridíssima amiga que, não sei por que cargas d’água, tomou para si que fiquei “famosa”.
Aí sumiu. Antes que eu, graças à suposta fama, desaparecesse.
Preferiu, talvez, antecipar-se à perda para, quem sabe, dela tirar alguma vantagem.
Não guardo mágoa não. Ao contrário. Guardo belas e caríssimas lembranças! Ô, se guardo!
É claro que fica uma pontinha de tristeza...
Hoje mesmo, agorinha há pouco, quando tirei o pão doce, receita nova, do forno... hummm... aquele aroma de coco e baunilha que chegava a derreter até as firmes paredes azulejadas (modéstia à parte) me trouxe à mente certas tardes.
E que certas! Deliciosas tardes regadas a chá gelado cujas folhas colhíamos na hora.
Outra amiga (estou voltando no tempo, retrocedendo a cada citação de amizade), quando queria dizer que odiava algo, dizia: “ai, como eu ódio isso!”.
E eu tinha comigo que devia ser um sentimento colossal, digno do uso insólito do substantivo.
Outra, minha primeira amiga de infância, dizia com propriedade desde a mais tenra idade: “é nas brincadeiras que a gente diz as maiores verdades, sabia?”.
Tenho saudades dos bonitos olhos dessa, do sorrisão largo da outra, e do abraço sincero da outra.
Tenho “saudade”. Guardo-a a sete chaves.
Afinal, fora os detalhes e entre aspas, é o que em suma fica.
Viver é pra lá de efêmero!!!
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br