Na prática, de resto, o núcleo bolsonarista fundamenta essa política em: 1) no que acredita serem boas relações pessoais com governantes; 2) na militância em uma internacional ultradireitista tida como repulsiva até por governos muito conservadores.
Vá lá que relações pessoais tenham sua importância, mas dentro de acordos duradouros entre países. A política bolsonarista é, por um lado, de atrito com países amigos e de amiguismo pueril, ignaro e servil com meia dúzia de governantes.
Para piorar, vários deles têm sua liderança ameaçada mesmo em seus países: nos EUA, em Israel, na Itália, por exemplo.
O Brasil é obrigado a se aliar não a países com interesses práticos comuns, mas a uma trupe de líderes com quem Bolsonaro compartilha a mesma religião autoritária (desde que sejam brancos e ditos cristãos). Junta-se à comunhão de inimigos do multilateralismo, arranjo mundial que nos beneficia.
Além dos amigos imaginários do presidente, o Brasil se isola, porém. O discurso desvairado oferece argumentos para críticos e adversários. Favorece coalizões improváveis de ambientalistas, protecionistas, grande finança e nacionalistas contra o agronegócio e outros interesses econômicos.
Permite a governos mais espertos usar o Brasil como um espantalho do mal, um desses países que acabam sendo vítimas de marginalização, sanções ou até ataques piores. (por Vinicius Torres Freire)