E AGORA, JAIR? O MANDATO ACABOU, O GOLPE FLOPOU, O POVO SUMIU, A CASA CAIU

8 de julho de 2022 360

william waack

A 'PEC DO DESESPERO' DE BOLSONARO ESTÁ AJUDANDO LULA

Não há surpresa alguma na PEC do Desespero

Comprar votos é o que sempre fez a política como ela é. Vergonha na cara não existe nesse tipo de política (nem gratidão). É um traço aparentemente imutável da nossa cultura, goste-se ou não.

A questão é saber se a compra de votos vai funcionar. O universo de eleitores que vivem com renda familiar (atenção, familiar) de até 2 salários mínimos – o alvo da PEC do Desespero – é estimado em 60 milhões de pessoas. 

Esse número equivale à soma de colégios eleitorais como São Paulo, Minas e Bahia. É a formidável massa de eleitores da categoria mais pobres (40% do total). 

Nesse enorme segmento a vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem sido ampla, constante e, ao que tudo indica, consolidada. Noutras palavras, com a PEC do Desespero a estratégia de Bolsonaro consiste em atacar seu adversário onde ele é mais forte.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona. Os profissionais em leitura de pesquisa constataram sem dificuldades uma correlação entre ajuda emergencial e melhora dos índices de popularidade de Bolsonaro, p. ex.

Mas, neste momento, dois fatores limitam consideravelmente a eficácia da desavergonhada compra de votos.

O primeiro é a deterioração da renda. 

Os eleitores mais pobres mencionam a economia como fundamental na formação do voto e consideram que R$ 600 de ajuda já não são R$ 600, grana que ainda por cima só será paga até o fim do ano. 

Ou seja, aos olhos do público-alvo a PEC do Desespero chega com pouco. Além de chegar tarde, o segundo fator limita sua eficácia eleitoral. 

Existe um reconhecido time lag entre a aprovação/efetivação de um benefício e a melhora da situação do candidato nas pesquisas. Fala-se de um processo que demanda em torno de meio ano – e faltam menos de três meses para o primeiro turno das eleições.

Para piorar a situação de Bolsonaro, ele está sendo vítima da famosa lei das consequências não intencionais.

Ao dedicar-se desesperado à compra de votos via benefícios sociais, paradoxalmente o presidente reforça a imagem de seu grande oponente – Lula é visto, pelos mais pobres e em termos de atributos, como aquele que melhor garantiria os benefícios para além do horizonte de dezembro estabelecido na PEC do Desespero.

Noutras palavras, a derradeira estratégia de Bolsonaro promete trazer pouquíssimo ganho político, obtido a um enorme custo financeiro e, principalmente, institucional ao País (algo que pouco importa para a política como ela é). 

Provavelmente o presidente nem percebe que foi engolido pelos fatos que pretendia mudar. (por William Waack)

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )