Emmerson Mnangagwa toma posse como presidente do Zimbábue
Emmerson Mnangagwa tomou posse como presidente interino do Zimbábue nesta sexta-feira (24) em cerimônia realizada na capital do país, Harare.
A transição encerra oficialmente os 37 anos de Robert Mugabe como líder do país, até então o único após a independência do Reino Unido.
Mnangagwa prestou juramento por volta das 11h45, no horário de Harare (7h45 em Brasília), diante de um estádio lotado. O político foi nomeado como presidente pelo partido governista, o Zanu-PF,
Vários chefes de Estado de países da região, como Botsuana, Moçambique e Zâmbia, compareceram à cerimônia. A principal ausência é a de Jacob Zuma, presidente da África do Sul, que recebe oficialmente o novo líder de Angola.
Mugabe, aos 93 anos comandava o Zimbábue desde sua independência, em 1980, mas renunciou na terça-feira (21) depois que o Exército tomou o poder e o partido governista se voltou contra ele. A insurgência militar foi deflagrada algumas semanas antes, quando Mugabe demitiu Mnangagwa da vice-presidência com o objetivo de abrir caminho para sua esposa, Grace, em sua sucessão.
De acordo com o jornal estatal “The Herald”, Mnangagwa prometeu, antes de sua posse, que Robert Mugabe e a sua família terão "segurança máxima".
"Mnangagwa conversou ontem (quinta-feira) com o presidente que deixa o poder, o camarada Robert Mugabe, e assegurou a ele e a sua família segurança máxima e bem-estar", afirma o jornal, segundo a France Presse.
'Crocodilo'
Mnangagwa, de 75 anos, nasceu na região central de Zvishavane, no Zimbábue, e pertence ao subgrupo Caranga, o maior do povo Xona, principal etnia do país.
Segundo a BBC, o perfil oficial de Mnangagwa diz que ele foi vítima de violência do Estado após ser preso pelo governo da minoria branca na antiga Rodésia, em 1965, quando a "gangue do crocodilo" que ele liderava ajudou a explodir um trem perto de Fort Victoria - hoje Masvingo.
"Crocodilo" se tornou seu apelido, pela habilidade política, mas também pelo caráter, segundo seus opositores.
Após receber treinamento militar no Egito e na China, lutou ao lado de Mugabe na guerrilha que depôs o governo britânico e tornou o Zimbábue independente, tornando-se o braço-direito do líder. Passou por diversos cargos ao longo dos últimos 37 anos.
Sua primeira derrocada aconteceu em 2005, quando perdeu o cargo de secretário de administração do Zanu-PF - o partido que exerce o poder no país -, posição que lhe permitiu nomear aliados para posições estratégicas no partido.
Isso aconteceu após relatos de que Mnangagwa estava em campanha forte para assumir o cargo de vice-presidente.
Mas depois que Mugabe perdeu o primeiro turno das eleições presidenciais para Morgan Tsvangirai, seu antigo rival, em 2008, houve rumores de que Mnangagwa teria orquestrado a campanha de reação do Zanu-PF, coordenando as estratégias do partido com a inteligência e o Exército.
As forças de segurança militar e do Estado desencadearam uma campanha violenta contra partidários da oposição, deixando centenas de mortos e desabrigados.
Tsvangirai então retirou sua candidatura no segundo turno, e Mugabe foi reeleito.
Demissão
Sua demissão da vice-presidência por Mugabe, que tentava afastar ex-guerrilheiros da cúpula do Zanu-PF para fazer da esposa, Grace, sua sucessora, precipitou uma insurgência militar. O Exército, liderado por Constantino Chiwenga, cercou prédios do governo e manteve Robert e Grace Mugabe confinados na residência oficial.
Mnangagwa, que havia se exilado na África do Sul, foi reconduzido à presidência do Zanu-PF e retornou ao país na quarta-feira (22), já com a certeza de que seria empossado, interinamente, na presidência.
Emmerson Mnangagwa presta juramento durante cerimônia de posse em Harare (Foto: Mike Hutchings/Reuters)