EMPODERAMENTO DA MATÉRIA

6 de novembro de 2017 896

Na atualidade, o termo “empoderamento” se tornou comum para as pessoas que atuam junto às populações mais sofridas.  É a promoção da autonomia, de capacidades, que possibilitam ao indivíduo uma perspectiva melhor de vida. Gosto do termo e o utilizo com certa frequência. Diante de certos acontecimentos, no entanto, tenho refletido sobre o quanto avançou o “empoderamento da matéria”. A corrupção é um exemplo que se destaca e elimina princípios.
Quero escrever, no entanto, sobre o “empoderamento das carnes” em alguns programas televisivos, em determinadas letras de funk, em certas danças e na vida de adolescentes. Aconteceu na praça próxima à moradia da menina. Contou-me que tirou a blusa porque as demais, que são queridas pelos garotos de sucesso, fizeram isso. Experimentou, no entanto, a humilhação. Seu sutiã preto de rendas passou despercebido.
Alegro-me pelos cuidados que recebi de meus pais, protegendo-me o corpo, as emoções e a alma. Vivi a década de sessenta e setenta com suas rebeldias. Li e reli “Ode ao Burguês” de Mário de Andrade: “Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,/ o burguês-burguês!” Nada, no entanto, me atraiu para os ganchos de carne dos açougues. Foi uma independência sem se perder das cautelas maternas e paternas.
As mudanças são tantas que muitos meninos e meninas não conseguem encontrar um ponto de equilíbrio e se entregam ao ritmo frenético das sensações da pele para, em seguida, mergulharem no desencanto. Uma questão de desrespeito com eles próprios e com as pessoas que velam por eles. E existe o empenho para atrair um número elevado de adeptos momentâneos como disfarce de amor. 
Quanta carência e quanta confusão de emoções e ideias! Rompem-se os limites do discernimento e, dependendo das consequências, o preço é a amargura. Que pena! Como salvar adolescentes sem rumo e mostrar que o pudor não cheira naftalina? É uma mostra de respeito ao espírito e ao corpo, ou seja, não se enxergar como simples objeto sexual no mercado das carnes. 
O não se permitir ser visto somente macho ou fêmea, fortalece a pessoa nos desenganos. Cria resistência para as decepções. O recato, que diz respeito ao corpo, protege o coração e a alma.
A menina de sutiã preto chorou muito ao me relatar o acontecido. Fiquei triste por ela e por inúmeros que, através da pele, se perdem dos sonhos.
 

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.