Empresa australiana compra minas de nióbio e terras raras em Minas Gerais

12 de agosto de 2024 54

A mineradora australiana St. George Mining anunciou a compra de 100% do ativo Araxá, um projeto planejado de mina e planta de extração de nióbio e terras-raras em Minas Gerais. Com a transação, a extração e venda dos minerais altamente valiosos seguirá em mãos estrangeiras e o país, bem como a região mineira, pouco se beneficiarão da exploração destas riquezas.

Especialistas brasileiros cobram mudanças na atual legislação que regula a exploração mineral no Brasil. O objetivo é que as rendas obtidas com a exploração mineral do país possam ser revertidas em mais ganhos econômicos e sociais para o Estado e para os brasileiros.

Além de gordas isenções fiscais, o setor mineral paga muito pouco na forma de royalties e participações para a União que é possuidora das riquezas. Segundo esses mesmos especialistas, o país também precisa processar seus minerais e ajudar na retomada da produção industrial no país.

O projeto já é de propriedade da americana produtora de fosfato e fertilizantes especiais Itafos Inc. Ele está situado em uma das regiões mais importantes do mundo para a produção de nióbio. O ativo Araxá está localizado em área adjacente à operação da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa mineira e líder do mercado de nióbio, respondendo por cerca de 80% da produção mundial. O ativo também está próximo à mina de fosfato da americana Mosaic Company, uma das maiores produtoras de fertilizantes fosfatados e potássio do mundo.

O nióbio é um mineral altamente cobiçado em todo o mundo e é usado atualmente para tornar o aço mais resistente. Este material é usado na fabricação de aeronaves e outros tipos de veículos. Há hoje no mundo um crescente mercado de nióbio e terras-raras.

A área de concessão do projeto em Minas Gerais cobre cerca de 226 hectares. Com menos de 10% da concessão perfurada até agora, o potencial para descobertas adicionais é enorme. Em comunicado ao mercado, a própria e presa compradora da concessão afirma que ”o ativo Araxá possui recursos de alta qualidade”.

 

Já as terras raras são minerais estratégicos da atualidade, essenciais e altamente valorizados no mercado global. Esses minerais são encontrados no rejeito da produção de nióbio. Araxá tem uma das maiores reservas desses elementos em todo o país. As terras raras são compostas por 17 elementos e um deles foi separado por meio de estudos, sendo a matéria prima para fabricar o superímã, usado em motores.

As terras raras são cada vez mais valorizadas na chamada “transição energética”. Elas são hoje insumos necessários para a fabricação de superímãs, usados em equipamentos de energia eólica. Cada gerador de uma usina eólica consome grande quantidade de alguns tipos de terras raras.

O Brasil ainda não produz os superímas. “Existe conhecimento de obtenção do superímã em universidades, mas não em cadeia industrial, então esse superímã que é usado principalmente em turbinas eólicas precisa ser importado”, disse o responsável pelo Laboratório de Processos Metalúrgicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas ) da USP, João Batista Ferreira Neto.

Ainda de acordo com o pesquisador, a produção do material é feita a partir do óxido de didímio, um dos metais das terras raras. “Na cadeia de produção dos superímãs temos o minério concentrado, os óxidos, o metal e o ímã propriamente dito. A CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) já tem uma fase de concentração desse material desenvolvida e de separação também. A próxima fase seria a obtenção da liga que dá origem ao ímã. Já estamos em entendimento com a empresa e outros parceiros para desenvolver a cadeia completa”, explicou João Batista.

A mineradora australiana St. George destaca que perfurações históricas feitas na região identificaram uma extensa mineralização de nióbio, terras-raras e até mesmo fosfato no local. O presidente executivo da mineradora, John Prineas, se mostra entusiasmado com as possibilidades da aquisição. Ele realçou que isso representa uma grande oportunidade para a companhia se tornar um player global no mercado desse tipo de minério, ressaltando que a localização do empreendimento oferece vantagens relevantes para o desenvolvimento e a exploração do recurso.

A americana produtora de fosfato e fertilizantes especiais Itafos Inc. receberá US$ 21 milhões pela venda da mineradora, além de ações que totalizam 10% do capital social da compradora. A Itafos diz ainda que o empreendimento poderá ter uma capacidade inicial de produção de 700 mil toneladas de óxido de nióbio por ano e de 8,7 milhões de óxidos de terras-raras.

Fonte: Por Hora do Povo