Estudo revela assédio e desigualdade de gênero entre oncologistas no Brasil

15 de maio de 2025 58

Uma pesquisa inédita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) expôs um panorama alarmante de desigualdade de gênero e violência no ambiente de trabalho: 50,3% das mulheres oncologistas ouvidas relataram já ter sofrido assédio moral, enquanto 24,7% afirmaram ter sido vítimas de assédio sexual. Entre os homens, esses índices foram de 21,4% e 7,1%, respectivamente.

O estudo, publicado nesta terça-feira (23) no periódico científico JCO Global Oncology, contou com a participação de 202 médicos oncologistas e outros profissionais da saúde que atuam na área, sendo 146 mulheres e 56 homens.

Embora mulheres sejam maioria nas escolas de medicina e estejam cada vez mais presentes na oncologia, elas ainda ocupam menos cargos de liderança, ganham menos e enfrentam mais obstáculos para progredir na carreira, indica o estudo.

“Os dados mostram uma disparidade expressiva e a urgência de políticas públicas e institucionais para transformar esse cenário”, afirma a primeira autora da pesquisa, Dra. Daniele Assad Suzuki, que também é oncologista clínica e membro da diretoria da SBOC.

O levantamento mostra, por exemplo, que apenas 13,7% das mulheres ouvidas ocupam cargos de chefia em departamentos de oncologia, contra 30,4% dos homens. A percepção de equidade também difere: enquanto 87,5% dos homens acreditam que há igualdade de direitos no trabalho, apenas 65,5% das mulheres compartilham dessa visão.

A maioria das mulheres (85,1%) defende a criação de políticas específicas para promover igualdade de gênero nos ambientes oncológicos. Entre os homens, esse número cai para 60,8%.

Para a Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, o cenário exige ações estruturais. “Precisamos de metas claras: aumentar a presença feminina em cargos de chefia, garantir representatividade nos espaços de decisão e combater o assédio com medidas firmes e canais de denúncia eficazes”, afirma.

A SBOC propõe como metas elevar para 40% a participação feminina na liderança da oncologia e estabelecer programas de mentoria, capacitação e combate ao assédio. A Sociedade também sugere a inclusão de treinamentos obrigatórios sobre vieses inconscientes e ética nas residências médicas.

“Sem equidade e segurança, não há excelência possível no cuidado com os pacientes nem melhores condições laborais no ambiente médico”, conclui Dra. Suzuki.

 

Fonte: ISTOÉ