Ex-procurador admite “lambança” no caso JBS, mas nega ter orientado Joesley a gravar Temer

29 de novembro de 2017 672

Marcello Miller admitiu que fez uma “lambança” ao sair da Procuradoria-Geral da República e, dias depois, se tornar sócio de um escritório de advocacia que atende a JBS. Por esse movimento, o ex-procurador, que depõe nesta quarta-feira (29/11) na CPMI da J&F, é acusado de fazer jogo duplo ao supostamente beneficiar Joesley e Wesley Batista na PGR.

Miller trabalhou com o então procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, até março deste ano, pouco antes do fechamento do acordo de colaboração premiada firmado pela procuradoria com a JBS. “Eu pedi a exoneração no dia 22 de fevereiro, ou 23, e entreguei minha carta de saída nas mãos do Rodrigo Janot. Eu expliquei ao Janot o que iria fazer, quais os outros passos da carreira. No dia 5 de março, enviei um e-mail a todos os procuradores dizendo que estava indo advogar num escritório líder em compliance”, explicou Miller.

Ele reconheceu, no entanto, que errou na maneira como deixou a PGR e foi para a empresa Trench, Rossi e Watanabe Advogados. “Não traí o Ministério Público Federal, pois eu indicava as empresas com as quais trabalhava a procurar o MP e dizer a verdade. Eu não cometi crimes e vocês vão ver isso. Mas fiz uma lambança e, por isso, estou aqui. Eu acho que, ao refletir sobre a situação, analisei que não havia crime, mas eu não atentei para as interpretações que isso poderia suscitar”, afirmou.

Amparado por um habeas corpus que o autoriza a permanecer em silêncio quando as perguntas puderem incriminá-lo, Marcelo Miller avisou, no início da sessão da CPMI no Plenário 2 do Senado Federal, que responderia aos questionamentos que pudesse.

Logo, ele começou a ser questionado pelos parlamentares sobre a transição da PGR para o escritório de advocacia. E disse que Janot e seu ex-chefe de gabinete, Eduardo Pellela, não tiveram conhecimento da “atividade preparatória que tive junto à J&F”.

“Há um bocado de mistificação e de desinformação em torno da minha relação constitucional com o procurador Rodrigo Janot. Eu achei graça quando vi no jornal que eu era braço direito dele. Nunca fui. O Dr. Janot tinha um chefe de gabinete, que não era eu, tinha um grupo de trabalho. Há diferença entre grupo de trabalho e força tarefa. O grupo de trabalho tinha dois coordenadores, eu não chefiei nenhum”, afirmou Miller.

A comissão
A CPMI da JBS saiu do papel no início de setembro, depois que Rodrigo Janot passou a investigar a delação premiada dos irmãos Batista. Formalmente, a comissão tem o objetivo de apurar os contratos da JBS com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o acordo firmado entre os Batista e o Ministério Publico Federal.

No entanto, deputados governistas estariam tentando usar a CPMI para desvalorizar as acusações apresentadas por Wesley e Joesley contra políticos da base aliada, entre eles, o próprio presidente Michel Temer.

Nesta quinta (30), o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran será ouvido por vídeo conferência.