Financial Times: Coveiros do Brasil e do México temem mais mortes por vírus do que é registrado

20 de abril de 2020 205

De Andres Schipani e Jude Webber no Financial Times.

Três coveiros, um vestido com uma bata branca de proteção, enterraram rapidamente o caixão de madeira de Vítor Batista. Há duas semanas, o jovem de 96 anos foi hospitalizado com pneumonia, mas, como outros que enchiam sepulturas no maior cemitério do Brasil, ele morreu antes de receber os resultados de um teste de coronavírus.

“Tenho certeza que ele tinha o coronavírus”, disse Ulisses Frutuoso, sobrinho do morto. “Sinto que não sabemos a extensão real dessa tragédia, mas os casos devem ser…” Ele levantou a mão para o céu, sinalizando que as mortes por Covid-19 provavelmente estavam disparando muito além dos mais de 2.400 que foram oficialmente registrados no Brasil.

Trabalhadores do cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, que estão ocupados cavando fileiras de túmulos, estão igualmente convencidos de que o vírus já causou mais vítimas do que as estatísticas oficiais sugerem. “Muitos como ele chegam aqui antes de obter os resultados dos testes”, disse um deles, que não quis ser identificado, gesticulando para o caixão enquanto lavava as mãos. “Estamos enterrando muito.”

 

Coveiros, profissionais de saúde e pesquisadores nos dois maiores países da América Latina, Brasil e México, contam uma história diferente para os números oficiais. No domingo, o México tinha 8.261 casos confirmados e 686 mortes. Mas Hugo López-Gatell, subsecretário de saúde que é o czar do coronavírus do país, admitiu que o nível real de infecção é pelo menos oito vezes maior porque, para cada caso positivo de coronavírus, provavelmente outra dúzia passa despercebida. Mas essa estimativa – 55.951 – parece basear-se em dados de duas semanas atrás, sugerindo que o número real é mais alto ainda.

A agência de serviços funerários da cidade de São Paulo disse que a média diária de enterros decresceu um pouco em março, mas os coveiros do cemitério disseram que sua própria média diária aumentou 50%, às vezes mais, antes da chegada do primeiro caso relatado de coronavírus ao Brasil no final de fevereiro.

Uma pesquisa do jornal Estadão, com base em dados oficiais, disse que o número de mortes registradas como insuficiência respiratória e pneumonia no Brasil aumentou 2.239 em março de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.

Pesquisadores de um grupo de universidades e institutos brasileiros respeitados disseram na semana passada que provavelmente havia cerca de 12 vezes mais casos de coronavírus do que os registrados oficialmente pelo governo no maior país da América Latina, lar de cerca de 211 milhões de pessoas. No domingo, o Brasil tinha mais de 38.000 casos confirmados, o que colocaria a contagem real em 456.000.

 

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