Governo e oposição voltam à mesa de negociações sobre crise venezuelana
O governo de Nicolás Maduro e a oposição realizaram nesta sexta-feira (15) uma segunda rodada de negociações em busca de saídas para a crise política e sócio-econômica que castiga a Venezuela.
Após um primeiro cara a cara nos dias 1 e 2 de dezembro, as partes se encontraram na sede da chancelaria dominicana.
No final da jornada, o presidente dominicano, Danilo Medina, anunciou um acordo para uma terceira rodada de negociações no dia 11 de janeiro.
"Decidimos montar uma reunião de trabalho no dia 11 de janeiro, com duas comissões nas quais não necessariamente estarão os chanceleres, e no dia 12 de janeiro, com a presença dos chanceleres" que acompanham o processo, declarou Medina.
A declaração ocorreu após oito horas de conversações entre delegados do governo de Maduro e da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
"Avançamos claramente, são seis grandes temas que estamos discutindo (...). Não podemos anunciar qualquer dos avanços que obtivemos porque é um conjunto, um pacote. Até que todos estejam de acordo não podemos anunciar", assinalou Medina.
As partes acertaram ainda designar os porta-vozes encarregados de informar sobre as negociações: Jorge Rodríguez, ministro das Comunicações, e Julio Borges, presidente do Parlamento, controlado pela oposição.
Na quinta-feira, o negociador da MUD Simón Calzadilla havia antecipado uma terceira rodada de conversações.
O chavismo comparece fortalecido, após arrasar no domingo passado nas eleições municipais, das quais não participaram os três principais partidos da MUD.
Cada lado se aferra a seus objetivos principais: o governo exige que se cesse a "sabotagem" contra a economia, e seus adversários, garantias para que as eleições presidenciais de 2018 sejam "transparentes".
As partes apresentaram suas exigências aos chanceleres e delegados de México, Chile, Bolívia, Nicarágua e São Vicente e Granadinas - facilitadores do processo - e os diplomatas elaboraram uma proposta que se discute nesta sexta-feira.
- Eleições "justas" -
Embora a oposição esteja fragilizada após a ampla vitória do governo nas eleições municipais e nas de governadores de 15 de outubro, Colette Capriles, assessora da MUD na negociação, acredita que esta pode aproveitar o momento.
Em sua avaliação, as eleições demonstraram que Maduro decidiu "vencer eleições não competitivas, algo próprio das ditaduras contemporâneas".
"O ocorrido funciona como evidência para sustentar a demanda de condições eleitorais competitivas e justas", declarou à AFP.
Os partidos dos líderes Henrique Capriles, Leopoldo López - em prisão domiciliar - e Henry Ramos Allup se marginalizaram das municipais, após denunciar irregularidades nas votações de governadores.
Maduro ameaçou inabilitar estes grupos por se negar a ir às urnas, o que foi condenado por Estados Unidos e Canadá, entre outros.
As novas tentativas de diálogo sucedem a outras que fracassaram entre 2014 e 2017, por acusações mútuas de descumprimento do acertado.
Enquanto isso, a crise econômica piora, com uma severa escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação que poderia chegar em 2018 a 2.349%, segundo o FMI.
- Nenhum acordo? -
A possibilidade de alcançar os acordos máximos, segundo analistas, parece distante, especialmente os resultados das municipais.
"Uma negociação depende do poder de negociação das partes e o da oposição diminuiu após as municipais", disse à AFP o analista Luis Vicente León.
Ao celebrar a vitória, Maduro pediu para se preparar para vencer as presidenciais, previstas para o fim de 2018, e nas quais, segundo seu vice-presidente, Tareck El Aissami, ele tentará a reeleição.
Entre outubro e dezembro, o presidente observou uma alta de sua popularidade de 24,4% a 31,1%, segundo a empresa Venebarómetro.
Comparativamente, a avaliação negativa da MUD aumentou de 46,1% para 65,7%, após falhar em sua tentativa de pressionar a saída de Maduro mediante protestos que deixaram 15 mortos entre abril e julho.
Analistas asseguram que o chavismo gostaria de aproveitar este impulso para antecipar as presidenciais para o primeiro trimestre.
Colette Capriles considera que a diferença entre esta negociação e as anteriores é "o amplo apoio da comunidade internacional" a eleições sem inclinação do Poder eleitoral.
"A pressão internacional e a que exerce a calamitosa situação econômica e humana em que estamos poderiam ter efeitos, mas pode ser que não se alcance nenhum acordo", advertiu.
"Será difícil ver uma eleição competitiva, mas talvez sim a libertação de alguns presos e concessões econômicas", avaliou León.