Hernández empata pela primeira vez com Nastalla em eleições de Honduras
O presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, candidato à reeleição, empatou nesta quarta-feira (29) na contagem de votos com seu rival, o esquerdista Salvador Nasralla. Os dois assinaram um acordo com a OEA comprometendo-se a aceitar o resultado oficial.
Os novos dados divulgados no site do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), com 81,77% dos votos apurados, dava 42,17% dos votos tanto a Hernández, do Partido Nacional (PN, direita) como a Nasralla, da Aliança Opositora Contra a Ditadura.
Já ganhamos, já ganhamos", gritavam eufóricos os apoiadores do presidente, que empatou pela primeira vez desde que se divulgaram os primeiros resultados na madrugada de segunda-feira, 10 horas depois do fechamento das urnas.
Em diferentes pontos da capital houve manifestações de apoiadores de um e de outro candidato para comemorar a mudança dos números ou denunciar uma possível fraude.
Na primeira divulgação do TSE, com 57% dos votos contados, Nasralla tinha uma vantagem de cinco pontos, que foi diminuindo conforme a apuração avançava ao longo de terça e quarta-feira, o que gerou suspeitas de fraude.
Nasralla declarou na terça-feira em uma entrevista à AFP que tinha as atas originais, que comprovam que ele ganhou a eleição, e acusou o presidente de usar o TSE para alterar os resultados.
- Acordo da OEA -
A Organização de Estados Americanos (OEA) obteve nesta quarta um compromisso dos dois candidatos nas eleições para aceitar o resultado divulgado pelo tribunal eleitoral. O acordo de três pontos foi negociado pelo chefe da missão de observadores da OEA, o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga.
Os Estados Unidos pediu que respeitem os resultados.
"Instamos a todos os candidatos que respeitem os resultados assim que sejam anunciados" oficialmente, disse à imprensa a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.
Washington também solicitou que o TSE termine sua contagem "sem demoras indevidas".
"É crucial que a autoridade eleitoral hondurenha possa proceder de maneira transparente e livre, sem interferências", disse Nauert. "Os Estados Unidos pedem calma e paciência", acrescentou.
Na tarde de terça-feira, o TSE começou a atualizar o seu site com o avanço dos resultados, reclamados pelos observadores locais e internacionais.
O representante da aliança de Nasralla na contagem de votos, Rasel Tomé, reclamou que a paralisação da apuração nesta quarta sugere uma tentativa de alterar o resultado do pleito.
A lenta apuração gera incerteza entre os hondurenhos: muitos se perguntavam o motivo de, três dias depois das eleições, continuarem sem saber quem governará o país nos próximos quatro anos.
"O povo está preocupado porque não deram um ganhador, qualquer que seja, porque ninguém vai consertar o país", lamentou José Rosendo Rosales no parque Las Mercés, em frente à sede do Congresso.
"Em outras eleições até esta data já sabíamos quem era o vencedor, e desta vez não. Estão tramando algo?", questionou.
Indignado com a diminuição da sua vantagem, Nasralla voltou a falar das suspeitas de que os resultados das eleições estão sendo alterados para favorecer o atual presidente.
"Convido o povo hondurenho para defendermos nas ruas o que ganhamos nas urnas", tuitou Nasralla, ao convocar uma manifestação nesta quarta-feira na capital.
Seu principal suporte político, o ex-presidente Manuel Zelaya, derrubado em 2009, fez eco de seu chamado e escreveu na rede social: "os que perderam estão modificando as cédulas, vão declarar JOH (Juan Orlando Hernández) vencedor e roubar a vitória".
- Credibilidade -
Entretanto, o presidente de Honduras falou na terça-feira em sua casa, rodeado de simpatizantes, para terem paciência com os resultados do TSE, embora tenha insistido que o resultado final o favoreceria.
"Como democratas devemos esperar o resultado oficial da contagem de cada cédula pelo tribunal eleitoral (...). É importante que todo mundo tenha paciência", declarou o presidente.
Hernández se candidatou para um segundo mandato amparado em uma polêmica sentença do tribunal constitucional, apesar da Carta Magna hondurenha proibir a reeleição.
Sobre o tema, a socióloga Mirna Flores, da Universidade Nacional, advertiu que o processo eleitoral gerou um descrédito para as instituições que permitiram a candidatura de Hernández.
"Neste país os cidadãos estão deixando de acreditar nas instituições: uma Corte Suprema de Justiça aprova a reeleição, um Tribunal Supremo Eleitoral aceita a inscrição de um presidente quando é ilegal e agora esta instituição não tem legitimidade ante muitos cidadãos porque acreditam que estão tramando uma fraude eleitoral", disse Sosa à AFP.
Igualmente, o ativista Jorge Yllecas, da Frente Patriótica para a Defesa da Constituição, apontou a perda de credibilidade do TSE, que parece responder ao presidente Hernández.
"Hoje temos um Tribunal Eleitoral sem credibilidade, responsável por esta crise por agir como um subalterno do presidente; deveria sair a desautorizar o presidente quando se declarou vencedor e depois quando Nasralla o fez. Criou uma crise, um confronto que pode ter consequências fatais", advertiu em declarações à AFP.