“In Fux nóis num trust” (Batatinha quando nasce…), por Armando Coelho Neto

15 de julho de 2019 252

“In Fux nóis num trust” (Batatinha quando nasce…)

por Armando Rodrigues Coelho Neto

The Intercept Brasil abriu a sarjeta da Farsa Jato. Entre áudios e mensagens divulgadas, veio à tona o que sempre se soube: nunca houve combate efetivo à corrupção, mas sim perseguição ao Partido dos Trabalhadores. Foi e é o caminho para adequação do Brasil aos interesses geopolíticos americanos. A corrupção edificadora de carreiras nas instituições não passou de pretexto. Aliás, a mesma corrupção, a mesmíssima “morocutaia” que até hoje circunda o atual Ministério da Justiça e da Segurança Pública.

Foi na corrupção sistêmica nacional que a elite enriqueceu, igrejas evangélicas proliferaram, pobres foram expropriados, negros, gays e outros foram marginalizados. Foi nela que juízes arrastaram bundas em busca de apoio para chegar ao Supremo. Tomaram muito chá de espera e café requentado em antessalas de parlamentares corruptos, apoiados até por traficantes. O PT não criou o departamento de corrupção da Petrobrás ou da Odebrecht, nem inventou doações republicanas para Lula, Aécio, Maduro e Capriles.

Nada é tão velho no Brasil quanto a palavra novo. A propósito, o atual ministro da Justiça é o “novo”, até João Dória é novo, e, Tabata Amaral que é nova, já está velha e caquética. Por isso é bom repetir: novo mesmo foi tentar acabar com a fome e promover inclusão social.

 

Da fraude eleitoral ao sumiço do Queirós, do conluio da Farsa Jato às tramoias palacianas com quadrilha de milicianos, fartas são as provas incontestes de que a republiqueta de Curitiba foi usina do golpe. Lá se deu a maior farsa jurídica do Brasil, quiçá da história mundial. Afinal, tribunais superiores dariam selo dignificante às condutas erráticas de juizecos de primeira instância. O sumidíssimo Jucá já havia anunciado o grande acordo nacional com supremo e tudo. Fossa aberta, o acordão está nu.

Cético, vejo as revelações do The Intercept Brasil (TIB) soarem como a “vingança dos fracos, que é contar pra todo mundo”, no dizer da escritora Clarice Lispector. A facção golpista alijada da “Ceia do Senhor” jogou no colo de um certo Glenn Greenwald o que dissera Jucá. Um imbróglio nacional que derrubou Dilma Roussef, içou Michel Temer, prendeu Lula à revelia de toda legislação e da tradição jurídica do Brasil e da ONU. Por meio de manobras, adiamentos e contorcionismo jurídico, o Supremo Tribunal Federal apadrinhou e apadrinha o golpe.

Prova fraca e forjada, uma procuradora “fraquinha” foi afastada, a Fundação Casa de Mãe Joana reluz, conluio entre acusação e julgador em quatro instâncias e, pasmem (!), o fedelho DD criou sua indústria de palestras. Nossa! O Fachin é deles e da sarjeta da Farsa Jato surgiu um “In Fux we trust” (No Fux confiamos), que só perde espaço para o “Aha uhu, o Fachin é nosso” – expressão com a qual piás mimados comemoram vitórias no videogame.

Ainda que Fachin continue deles, Queiróz e Jucá permanecem sumidos e o Brasil corre o risco de ter um fritador de hambúrguer como diplomata, precisamos deixar claro desde que “In Fux nóis num trust”, nem a pau! Esclareço nas linhas seguintes.

Li uma matéria publicada na revista Piaui, na qual o ministro Fux teria promovido um “campanhão” para dar à filha dele o cargo de desembargadora no Rio de Janeiro. Segundo a repórter Malu Gaspar, a filha do “In trust” seria a mais despreparada entre os candidatos. Não galgara sequer preencher condições primárias exigidas, já que não teria apresentado “trabalhos suficientes para os anos de 2007, 2008, 2009, 2010, 2012 e 2014”. A exigência teria sido “suprida” por amigo do pai dela, por meio de uma insólita declaração. Consta ainda que um grupo de 28 conselheiros da OAB teria pedido a impugnação da candidatura dela, fato que rendeu “notas e reportagens em jornais e revistas”. Segundo a Piauí, o rolo foi tamanho “que Fux-pai visitou algumas redações”.

De acordo com a revista, o “In trust” queria dar o cargo para a filha como um presente. Em protesto, 25 desembargadores faltaram à sessão e, de acordo com a revista, o desembargador Siro Darlan, amigo do ministro há cinquenta anos, declarou carinho pelo “In trust”, mas teria dito: “Se eu fosse ele, faria com que meus filhos seguissem o meu exemplo. Trata-se de um cargo republicano. Não é algo que se possa dar a alguém, como um presente.” Tudo em vão, a herdeira do “In trust” acabou sendo nomeada pelo governador Luiz Fernando Pezão (preso por corrupção – sem vínculos com o episódio filhinha de papai).

Aqui termina a primeira parte da razão pela qual “In Fux nóis num trust”. Reporto o leitor a esse link.

Vamos à parte 2.

Assisti à palestra do tal “In trust” proferida na Expert 2019 (evento da XP investimentos), que contou com diversificada trupe. De juízes a empresários, do atual ministro da Justiça ao jogador de futebol Kaká, até o “Veio da Havan” foi lá dar pitaco… Pois bem, lá, além de se declarar futuro presidente do STF, Trust teve a pachorra de antecipar voto – defendeu privatizações, reforma da previdência e trabalhista (ele a filha estão fora). Imaginem se uma causa sobre esses temas surge para ele analisar? Achando pouco, declarou apoio à Farsa Jato (aplausos!) para uma plateia de “honestos”, que por certo não devem à previdência, não sonegam impostos e, certamente não precisaram de Refis, Refis de Refis ou Refis de Refis de Refis…

 

Para ele, a Constituição deve ser interpretada levando em conta a opinião pública. Estranho, não? Juízes fazem conluio com a mídia para formar opinião pública, e depois decidem de acordo com a opinião pública que ajudaram a formar. Mais pérolas! Trust afirma que todo cidadão deve ter resposta do judiciário “em tempo razoável” e defende direitos humanos. E os processos do Lula sistematicamente adiados? E o silêncio imposto a Lula pelo próprio ministro? E a desobediência à ONU? Para finalizar, o magistrado declama um poema de viés patriotada piegas. Mais apropriado seria encerrar declamando ¨Batatinha quando nasce…”. Definitivamente, “In Fux nóis num trust!

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.