Inteligência artificial resgata voz de John Lennon e Beatles lançarão canção inédita, anuncia Paul McCartney

13 de junho de 2023 149

247 - A história dos Beatles é infinita. Os avanços tecnológicos têm permitido continuar construindo-a e dando vida a cada fragmento arqueológico - uma foto esquecida, uma gravação caseira, uma antiga maquete - que os quatro músicos de Liverpool deixaram para trás. Paul McCartney anunciou nesta terça-feira, na rádio BBC Radio 4, que o uso da Inteligência Artificial (IA) permitirá a produção e publicação, no final deste ano, da "última música" da banda. McCartney, alma impulsionadora da formação ao lado de John Lennon, não quis revelar qual é o tema, mas pistas anteriores sugerem que seria "Now And Then", relata o El País.

Em 1978, Lennon gravou algumas músicas em um gravador de fita cassete, sentado ao piano de seu apartamento em Nova York. Dezesseis anos depois, a viúva do cantor - assassinado em dezembro de 1980 na entrada do prédio Dakota - Yoko Ono, entregou a McCartney uma maquete com a inscrição "Para Paul", contendo algumas das canções criadas em seus últimos dias. Obviamente, não era a "Pedra de Roseta" que finalmente revelaria as chaves dos Fab Four. É difícil extrair algo novo de um grupo idolatrado e comercialmente explorado até a exaustão. Na verdade, duas das músicas daquela maquete, "Free As A Bird" e "Real Love", já foram convenientemente limpas e remasterizadas pelo produtor Jeff Lynne e lançadas em 1995 e 1996, como parte do novo material dos Beatles que surgia após 25 anos.

Mas "Now And Then", uma música de amor e desculpas composta e interpretada por Lennon, parecia irrecuperável. Tinha um refrão, mas apenas algumas estrofes. Não havia como completá-la, e, para alguns membros da banda, como George Harrison (falecido em 2001), "era uma porcaria". "George não gostou, e os Beatles eram uma democracia, então não fizemos nada com ela", explicou McCartney. No entanto, ele via uma beleza oculta naquela música.

O trabalho da IA - Quando o diretor Peter Jackson apresentou seu documentário "Get Back" em 2021, o editor de diálogos Emile de la Rey conseguiu, por meio da tecnologia da informação e do aprendizado computacional, reconhecer e isolar as vozes dos quatro músicos do constante ruído de fundo. Essa técnica tem permitido o resgate de materiais não utilizados. McCartney, por exemplo, conseguiu, dessa forma, interpretar um dueto com Lennon em sua última turnê.

"A partir de uma fita cassete com uma gravação bastante ruim, [a IA] foi capaz de extrair a voz de John. Tínhamos sua voz e o piano. Eles conseguiram separá-los. Temos a voz de John em estado puro e pudemos mixar a gravação para que se torne a última música dos Beatles", explicou McCartney à BBC.

O uso da inteligência artificial no processo criativo dos músicos tem gerado um intenso debate, com críticos como Sting alertando para a ameaça que essa nova tecnologia representa, enquanto bandas como Pet Shop Boys a consideram uma ajuda positiva, que pode ser utilizada ou descartada, por exemplo, ao finalizar uma música que talvez tenha ficado inacabada em uma gaveta. Uma pequena ajuda para a inspiração. Ou como nas grandes obras que hoje são expostas em museus como o British Museum, incompletas e reconstruídas com acréscimos de gesso ou fotografias. Paul, John, George e Harrison nunca se reuniram para gravar "Now And Then". Isso é impossível agora. Mas para aqueles que nunca se cansam de ouvir sua música, é um presente.

 

Fonte: BRASIL 247