Jaraqui, prato típico do Amazonas: fama de herói e cara de vilão
A fama da espécie jaraqui (Semaprochilodus taeniurus) não se limita apenas como espécie de peixe que alimenta grande parte da população do estado do Amazonas e adjacências, como matéria prima para preparação do prato típico do manauara e contribuir com proteína afrodisíaca e alegrar a vida de muita gente, além de contribuir para o aumento da longevidade da população de Maués-AM e grande maioria da população amazônica, com comprovação científica.
A espécie jaraqui, também, já conseguiu materializar a sua história como herói-e-bom-moço da trama e, agora, como vilão-e-intruso de uma nova saga e ter seus momentos de altos e baixos — de fama e de rejeição — para o lado do bem, com para a face do mal — neste último, logo após subir os Andes e povoar com muita competência e desenvoltura, de uma maneira indesejável para a categoria de pescadores bolivianos, os principais rios e tributários da Bacia Amazônica boliviana, em especial as coleções de água das principais cidades do Departamento do Beni, como as cidades de Guayaramerín, Riberalta, Magdalena, Reyes, San Joaquin, Loreto, San Inácio, Santa Ana, Cochabamba e Trinidad.
Nos idos do Território Federal de Rondônia, precisamente no ano de 1976, a SUDEPE- Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (extinta) atuava no Território, através de um simples convênio com o Governo, quando a então SEAG-RO, hoje SEAGRI-RO, era a gestora e responsável pelos serviços incipientes de fiscalização e de fomento da pesca, tendo como responsável o Sr. Aníbal Vitor Lemos, meu grande amigo e, depois, padrinho de casamento. Como todo trabalho realizado em Rondônia naquela época se transformaria em ato heroico.
Com o Aníbal Vítor Lemos isto não fora diferente, consegui realizar a maior façanha e proeza de sua vida: ordenou que seus assessores capturassem 119 exemplares da espécie jaraqui (Semaprochilodus taeniurus) rio Madeira e, através de seu prestígio pessoal, conseguiu viabilizar um avião da FAB, o famoso e utilitário Búfalo para transporte de cargas e de passageiros, e realizou o transporte para o Alto Guaporé, na divisa com a Bolívia, das mencionadas matrizes da espécie jaraqui e as transportou para fazer o povoamento da bacia do Mamoré/Guaporé, e, em ritmo de grandes aventuras, procedeu a distribuição das mencionadas matrizes, em pontos estratégicos, para que a natureza se encarregasse de fazer a reprodução e a necessária multiplicação e, consequentemente, povoar todas as bacias e adjacências, e passar para a história da preservação ambiental, do hoje estado de Rondônia.
Em 2003, no início de um uma nova administração do Governo Estadual, eu aceitei o convite do então Secretário da SEDAM, Hamilton Casara, para coordenar a Gerência de Pesca e Fauna desta pasta, e logo, de início, realizou-se a primeira viagem internacional, desta feita, para a República da Bolívia, a fim de se fazer um Seminário de Integração Brasil/Bolívia, nas cidades de Trinidad e Magdalena, no Departamento do Beni e, quando se buscavam subsídios técnicos para viabilização do Corredor Ecológico, (nesta oportunidade estes trabalhos do Corredor Ecológico eram coordenados pelo IBAMA, em convênio com o Ministério do Meio Ambiente - MMA, tendo como coordenadora a então funcionária do IBAMA-RO, Maria Nanci Magalhães da Silva, hoje funcionária do Estado, de interesse binacional e, conseguintemente, para se fortalecer a economia regional, promover a preservação dos recursos naturais renováveis e não renováveis entre os povos destes dois países vizinhos e amigos.
CONTRAPONTO
Durante a realização do Seminário de Integração Brasil/Bolívia, na cidade de La Santíssima Trinidad, hoje Trinidad, Departamento do Beni, República da Bolívia, em 2003, quando eu fazia uma apresentação sobre criação de tambaqui em tanques-rede um dos ferrenhos defensores da ecologia boliviana abriu a matraca e bradou em alto e bom som:
“Quiero cobrarle al Gobierno de Brasil uma compensación merecida para mitigar los impactos ambientales causados por la espécie Jaraqui, em vista de los inconvenientes y el daño ambiental que esta espécie de peces há estado causado a los pescadores bolivianos, que ya no puedem soportar sacar a estos peces de sus redes, redes y tejidos cuando están pescando”.
“Eu quero aqui cobrar do Governo do Brasil uma indenização merecida para mitigar os impactos ambientais causados pela espécie jaraqui, tendo em vista o transtorno e os danos ambientais que esta espécie de peixe vem causando aos pescadores bolivianos — que não estão mais aguentando retirar estes peixes de suas redes, tarrafas e malhadeiras, no momento que realizam suas pescarias”.
A população boliviana não tem o hábito de consumir o jaraqui, talvez, até, porque dá muito trabalho para preparar, e, por isso, afirma que não gosta — até mesmo por inexistência de tecnologia de beneficiamento, quando exige que seja ticado com muita técnica e habilidade para ofuscar e reduzir a ação das espinhas, ao contrário do amazônida do Brasil que, além de transformá-lo no prato típico regional, agora, recentemente por ocasião da Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil, em 2014, pensou em pleitear para transformar a BOLA da Copo do Mundo de 2014, em BOLA JARAQUI, a exemplo da BOLA JABULANI eleita e empregada na Copa do Mundo da África do Sul em 2010, que infelizmente não foi aprovado este nome e, sim, Bola BRAZUCA, eleita com 1.119.539 de votos dos brasileiros.
Enquanto os brasileiros cantam, comem, bebem, dançam e queriam jogar com a bola JARAQUI, os bolivianos BERRAM, BRADAM, COBRAM, XINGAM e FURAM seus dedos e suas mãos desenganchando o JARAQUI de seus apetrechos de pesca.
Este texto está sendo reeditado nesta Coluna Espinha na Garganta para corrigir algumas incorreções em sua edição anterior. Gratos pela compreensão.
PENSAMENTO DA SEMANA
Se você está se sentindo mal humorado e com baixas intenções, não hesites em concluir: você está necessitando de energia potencial para turbinar sua matriz energética, lubrificar seus neurônios e estimular suas alegrias. Dirija-se a uma banca que comercializa pescado mais próxima de sua residência e solicite uma penca de JARAQUI e se alimente com ÔMEGA 3, genuinamente amazônico, acompanhado com os principais aminoácidos essenciais, indispensáveis à vida saudável que todos os terráqueos.
Tenham todos uma boa e feliz semana.
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POLÍTICA & MEIO AMBIENTE (ANTôNIO DE ALMEIDA )
Antônio de Almeida Sobrinho é graduado em Engenharia de Pesca, com Pós-Graduação em Análise Ambiental na Amazônia Brasileira e Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, e colaborador do quenoticias.com.br