Annie Castro
Enquanto cursava Biologia Marinha e Costeira, em Imbé, no Rio Grande do Sul, Therrése Torres atuou em um laboratório que monitorava a qualidade da água das lagoas costeiras do norte do Estado. Durante as pesquisas e análises que realizou no local e ao longo da graduação, que é uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), ela pode observar na água a presença de metais pesados e de nutrientes contaminantes, componentes que são, na maioria das vezes, resultantes do descarte inadequado de resíduos industriais. Nesse cenário, Therrése decidiu pesquisar, durante o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o uso de plantas na remoção dos elementos contaminantes das águas que são utilizadas para o abastecimento da população.
“Já existem produtos usados para isso, mas normalmente eles são um composto que tem outros componentes químicos junto. Então, a ideia foi ter uma tecnologia que fosse completamente natural, sem a necessidade de outros químicos”, explica Therrése, em entrevista ao Sul21. Antes de iniciar a pesquisa,juntamente com sua orientadora, a professora Juçara Bordin, e com seus coorientadores, Cacinele Mariana da Rocha e Alan dos Santos da Silva, ela procurou algumas companhias de tratamento para descobrir se lidavam com a presença de algum tipo de contaminante nas águas. “A maior problemática para eles era a grande quantidade de nutrientes”, conta.
A decisão de utilizar Briófitas como fitorremediadoras, ou seja, em um processo que usa plantas como elemento para purificação de ambientes, se deu por diversas razões. Questões como a estrutura desses vegetais e o fato de estarem presentes no mundo todo influenciaram na escolha para a pesquisa. São plantas de pequeno porte, geralmente muito resistentes às mudanças ambientais e costumam viver em climas úmidos, podendo atuar como reservatórios de nutrientes.
Para os testes, foram utilizadas três espécies de Briófitas: Ricciocarpos natans, Sphagnum perichaetiale e Bryum muehlenbeckii. Essas plantas são, respectivamente, aquáticas, de ambientes úmidos e de substratos, como em rochas que ficam às margens de rios. A pesquisa utilizou biomassas secas e úmidas, que foram expostas a soluções que continham concentrações de metais pesados. “A biomassa úmida é um composto das células vivas, então elas podem ter alguma resistência, por exemplo, chegar no limite de absorção porque absorveram todas as necessidades que precisavam para viver, por exemplo, o ferro, que é um componente natural dos seres vivos. Já a biomassa seca não tem mais essa barreira, ali as células, tecnicamente, já estão mortas”, explica Therrése.
Durante os estudos, a taxa de sucesso na remoção dos metais pesados foi de 90%, segundo a bióloga. “O Sphagnum foi o que teve o melhor desempenho de absorção. Ele conseguiu remover 99% do ferro presente nas amostras e 98% do cromo. Sendo biomassa seca a que mais absorveu os contaminantes” conta.
Com o sucesso na remoção, a pesquisa resultou no produto ‘Bryopowder’, que em outubro do ano passado teve o pedido de patente depositado. De acordo com Therrése, a proposta é comercializá-lo para indústrias e para a sociedade em geral. “A ideia é que ele possa ser aplicado em residências e também em uma escala mais ampla, como para descontaminar lagos, caso seja de interesse das companhias de tratamento de afluentes”, afirma. Ela também explica que, caso passe a ser vendido comercialmente, o produto precisa passar por uma aprovação das Prefeituras e do Governo do Estado.
Em relação ao descarte do material contaminado, resultante da pesquisa, Therrése diz que ele foi encaminhado para o Centro de Tratamento de Resíduos Químicos da UFRGS. “Os nossos testes foram feitos dentro da universidade e ali eles realizam o tratamento de todos os tipos de resíduos do local, tanto de metais quanto outros químicos de outros laboratórios”. Caso o descarte fosse ser realizado fora da UFRGS, seria necessário terceirizar o serviço, por meio de empresas que trabalham com o descarte desses contaminantes ambientais. Therrése afirma que agora irá continuar pesquisando o tema e realizando novos testes para descobrir de que outras formas elas podem ser utilizadas como purificadoras.