Mortalidade infantil aumenta em nove regionais de saúde

13 de junho de 2018 610
Nove das 22 regionais de saúde do Paraná apresentaram crescimento no número de mortes de crianças em 2017 na comparação com o ano anterior. A 17ª Regional de Saúde, cuja sede é Londrina, é a terceira do Estado no ranking da mortalidade infantil, com um CMI (Coeficiente de Mortalidade Infantil) de 13,1. O índice é calculado a partir da divisão do número de óbitos de crianças menores de um ano a cada mil nascidos vivos. A mortalidade infantil também cresceu nas Regionais de Saúde de Apucarana, Campo Mourão, Cianorte, Cornélio Procópio, Francisco Beltrão, Maringá, Ponta Grossa e Toledo. 
 
 

De acordo com Fátima Tomimatsu, gerente da Vigilância Epidemiológica de Londrina, o avanço da mortalidade infantil pode ser atribuído a diversas causas. "São vários fatores. Grande parte dos óbitos ocorre nos primeiros 28 dias da criança. Temos uma discussão apurada quando se fala em causas evitáveis e não evitáveis. Procuramos discutir detalhadamente para saber o que deve ser evitado para que esse cenário não se repita", declara. 

Segundo a Secretaria de Saúde de Londrina, no último ano o CMI da cidade teve aumento de 24% na comparação com 2016. Foram 76 mortes. Do total de óbitos infantis de residentes em Londrina, mais do que três quartos das mortes ocorreram no neonatal, período que vai do nascimento ao 28º dia de vida e no qual a qualidade da assistência hospitalar é de fundamental importância para a sobrevivência do bebê. Os dados foram atualizados em 23 de maio. 

De acordo com a pasta, o município de Londrina apresentou, de 2014 a 2016, números estáveis de mortalidade infantil, com média de 8,7. Em 2017, no entanto, o CMI subiu para 10,8. Para a Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), um valor considerado "razoável" para o coeficiente é abaixo de 10. 

A Secretaria de Saúde aponta que o desafio do Estado é alcançar números de mortalidade infantil de apenas um dígito, o que já foi obtido nas Regionais de Jacarezinho, Irati, Telêmaco Borba, Região Metropolitana de Curitiba, Cascavel, União da Vitória, Paranaguá e Paranavaí. A regional com a menor taxa de mortalidade infantil do Estado é a 22ª, com sede em Ivaiporã (Centro), com índice de 5,8. 

Júlia Cordellini, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, ressalta que o trabalho que a Regional de Ivaiporã fez com todos pontos de atenção primária e hospitalar mostra que é possível reduzir a mortalidade infantil. 

Cordellini acrescenta que o CMI da 17ª Regional preocupa, pois é quase 28% maior que o do Paraná. No Estado, a taxa recuou 15% em comparação com 2016. Para a médica, a redução do CMI é resultado de um trabalho conjunto do Estado com os municípios e organizações não governamentais. 

A superintendente acredita que um caminho para a redução dos óbitos é aprimorar os serviços de atenção primária e que cuidam da mulher no pós-operatório. "Também é importante o estudo das causas evitáveis, do pré-natal, do parto ao puerpério." 

A taxa de mortalidade materna de Londrina relativa ao biênio 2016-2017 foi de 7,09 em mil nascidos vivos. Um comitê de prevenção da mortalidade materno-infantil foi organizado no município nas últimas semanas a fim de discutir os óbitos do ano passado. Fátima Tomimatsu explica que esse comitê é interinstitucional e tem a participação de profissionais de todos os serviços de saúde que realizam assistência materno-infantil em Londrina (UBS, hospitais, ambulatórios, universidades) públicos e privados. 

Segundo a pesquisa do comitê, do total de óbitos infantis de residentes de Londrina, 26 foram por causas evitáveis, 49 por causas não evitáveis e dois foram inconclusivos. Ainda foi apurado que em 2014 as mortes nos primeiros 28 dias da criança responderam por 75% dos óbitos, enquanto em 2015 foi de 90% e em 2016 voltou a ser de 76%. 

No ano passado, as mortes neonatais responderam por 84% dos óbitos. Para o comitê, "não se pode deixar de relacionar esse aumento do índice no último ano como um possível reflexo do agravamento das condições socioeconômicas da população, situação essa observada em todo o país, em anos recentes". 
 
 


AJUSTE FISCAL 
Uma pesquisa publicada em 22 de maio pela revista internacional "Plos Medicine" analisou, por meio de dados estatísticos, os impactos da crise econômica brasileira na saúde de crianças. Conforme o estudo, que englobou pesquisadores brasileiros e ingleses, caso as medidas de austeridade fiscal adotadas em 2015 pelo governo federal para conter a crise permaneçam, o País pode ter até 20 mil mortes infantis a mais até 2030. 

O crescimento da mortalidade de crianças estaria relacionado ao corte de verbas em programas sociais como o ESF (Estratégia de Saúde da Família) e o Bolsa Família. A pesquisa analisou todos os 5.507 municípios do Brasil para a temporada de 2017 a 2030. 

As conclusões do estudo garantem que "a implementação de medidas de austeridade fiscal no Brasil pode ser responsável por uma morbidade e mortalidade substancialmente maiores na infância do que o esperado sob a manutenção da proteção social - ameaçando atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável para a saúde infantil e reduzindo a desigualdade".
 
Isabela Fleischmann
Reportagem Local