Na cabeça e no pescoço, há mais de 30 áreas onde o cancro se pode desenvolver
Lesões que não curam na cavidade oral, dor e dificuldade na deglutição, rouquidão, dor persistente na garganta e no ouvido, tosse, dispneia e uma tumefação cervical, são os principais sintomas.
É o oitavo cancro mais comum em Portugal, todos os anos registam-se mais de 1 800 novos casos e mata três portugueses por dia. O cancro da cabeça e pescoço pode localizar-se em várias zonas: na cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, nasofaringe, laringe, seios perinasais, glândulas salivares e envolvimento das cadeias ganglionares cervicais por um tumor primário oculto, iniciando-se, geralmente, na mucosa e crescendo por infiltração local. O Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço é assinalado nesta sexta-feira.
Os principais sinais podem facilmente ser confundidos com sintomas de outras doenças. “Os sintomas mais comuns são um inchaço ou uma ferida na cavidade oral, dificuldade em engolir, dores de ouvidos, rouquidão ou dores de garganta que não resolvem e persistem por mais de três semanas”, adianta à NM Ana Castro, presidente do Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e Pescoço.
“Contudo, podemos falar ainda de outros sinais de alerta, como o aparecimento de manchas brancas ou vermelhas nas gengivas, palato, língua ou parede interna da cavidade oral, obstrução nasal permanente, dores de cabeça persistentes e um aumento de volume de glândulas salivares”, acrescenta.
Embora 85% das vítimas continuem a ser fumadores ou ex-fumadores, este cancro afeta pessoas mais jovens, entre os 30 e os 45 anos, que não fumam e não bebem.
O tabaco, a ingestão crónica de bebidas alcoólicas, a má adaptação crónica de próteses dentárias, má higiene oral e a imunossupressão – por exemplo nos indivíduos submetidos a transplante de órgão e nos doentes com infeção pelo VIH – são fatores de risco.
“O cancro de cabeça e pescoço sempre foi associado ao consumo excessivo de álcool e tabaco. Por isso, era mais prevalente em homens, a partir dos 50 anos de idade. Hoje em dia, assistimos a casos de pessoas cada vez mais jovens, que não fumam nem bebem bebidas alcoólicas e cujo aparecimento está relacionado com o Vírus do Papiloma Humano (HPV)”, sublinha a especialista.
Ana Castro refere que há outros comportamentos, como o excesso de exposição aos raios solares, exposição a produtos industriais como madeiras, níquel e outros metais pesados, asbesto ou radioterapia e uma dieta pobre em vegetais e frutas, que podem levar ao cancro da cabeça e pescoço.
“A melhor forma de prevenção é evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool. A prática de sexo oral seguro e a vacinação do HPV também são formas de prevenção”, refere a presidente do Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e Pescoço.
O cancro da cabeça e pescoço é a quarta patologia com maior incidência em Portugal em indivíduos do sexo masculino.
O diagnóstico precoce é fundamental. Sabe-se que apenas 30 a 50% dos casos são diagnosticados numa fase inicial, como é o caso de tumores pequenos, sem invasão de estruturas adjacentes e com nenhum ou pouco envolvimento ganglionar, em que existe uma elevada taxa de cura recorrendo unicamente a tratamento cirúrgico ou radioterapia.
No caso da doença estar numa fase avançada, nomeadamente com metástases nos pulmões e ossos, em que as várias funções vitais como a respiração, a alimentação e a comunicação são afetadas com maior impacto, os progressos na terapêutica multimodal (radioterapia, cirurgia, quimioterapia e imunoterapia) têm permitido aumentar a taxa de sobrevivência.
Recentemente, surgiu uma terapia inovadora que atua sobre o sistema imunitário e que tem obtido resultados surpreendentes: a imuno-oncologia. É referida como uma nova arma no tratamento de cancros avançados, que prolonga o tempo de vida com qualidade. A imunoterapia ativa o sistema imunitário para discriminar quais são as células do tumor e atacá-las para evitar que se desenvolvam.