NÃO EXISTEM HERÓIS NA BRIGA MUSK X MORAES
Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira, 30/08, a suspensão do twitter no Brasil após Elon Musk, o bilionário proprietário da rede, ter desobedecido ordens de exclusão de perfis e não ter apontado um representante legal no país. Essa história é a exemplificação, ao mesmo tempo, da batalha em nível global dentro da própria burguesia entre a ala neofascista e a direita liberal e do colapso da internet enquanto espaço democrático e livre.
Quando surgiu, o twitter representou as melhores potencialidades da internet. Livre, fora do controle e da manipulação da mídia corporativa, era uma rede social dinâmica em que as pessoas podiam se expressar de forma ampla. Foi mesmo importante nas mobilizações populares que explodiram na década passada, da Primavera Árabe às Jornadas de Junho de 2013, além de ter sido o canal de inúmeros movimentos políticos revolucionários e anticapitalistas, a exemplo do Anonymous e do Wikileaks. Ou seja, era a marca maior da época heróica da internet, quando a rede mundial de computadores possuía natureza horizontal e se fundava no trabalho hercúleo de milhões de voluntários.
Mas tal era acabou. Ao longo dos anos 2010 as corporações começaram a se apoderar da internet, transformando cada serviço e cada pedaço do ciberespaço em uma grama de mercadoria. Os compartilhamentos de vídeos foram sendo substituídos pelas plataformas de vídeo, as redes sociais passaram a ser dominadas pelos algoritmos em que apenas os pagantes atingiam um público maior, a espionagem, a venda de informações pessoais e outras coisas se espalharam, a mídia corporativa retomou as rédeas sufocando blogs e páginas independentes nas buscas do Google, etc. Quando Musk compra o twitter, a mutação dessa rede já tinha avançado imensamente, tendo ela se tornado uma rentosa fonte de negócios. Foi nesse contexto que as redes passaram a ser inundadas de informações falsas e manipuladoras, em uma espécie de reverso da moeda do período libertador de antes.
Não é possível pensar tais ações manipulatórias sem o investimento maciço de grandes grupos empresariais e sem o apoio das corporações que dominam a internet. Enquanto, por exemplo, no Facebook, páginas de esquerda eram ou derrubadas ou ostracizadas, páginas de mentira, de discurso de extrema direita, permaneciam ativas e ganhavam visibilidade. Claramente tais ações expressavam a ascensão da extrema direita em nível mundial, catapultada por vastos setores do grande capital. Em oposição, a direita liberal lança uma contraofensiva política e jurídica, pressionando as empresas por regulações.
É a velha vontade política, que na realidade é pura impotência: acreditar que regulando o mercado se domará a selvageria do capitalismo. E quem melhor para encarnar isso que um Juiz, alçado à qualidade de xerife? Xandão, assim, entra de sola no processo de suspender contas e cassar postagens nas redes sociais daqueles ligados ao bolsonarismo ou que de alguma forma questionem sua autoridade. Dentro do hermético inquérito das fake news - em que ele é vítima, acusador, julgador e executor -, se pode tudo e cabe tudo.
Não é preciso muito português para determinar as ações de Moraes pelo que são, pura e simples censura, mas supostamente uma censura do bem. Nada disso, porém, deve ser surpreendente porque na sociedade de classes a liberdade de expressão é sempre tolerada pela burguesia até certos limites e mesmo nos EUA é possível sair às ruas trajando uma suástica, mas os Panteras Negras eram impiedosamente caçados pelo FBI.
Contudo, as ações de Moraes não tornam Musk um herói da liberdade de expressão. Muito pelo contrário! O bilionário, hoje um dos maiores promotores da extrema direita mundial, está nessa batalha apenas em defesa do bolsonarismo, fato comprovado por seu aceite às censuras impostas pelos governos neofascistas da Índia e da Turquia, além da suspensão de inúmeras contas de ativistas da causa da Palestina em sua rede. O burguesão também sabe censurar quando isso lhe convém.
Cabe aos revolucionários não firmar posição entre Xandão e Musk, mas nega-los em bloco! (por David Coelho)
A música que melhor expressa quem é Elon Musk.