NEM AS MÁSCARAS NOS TORNAM IGUAIS
Silvio Persivo
É verdade. Antes usar máscara era coisa de bandidos ou de heróis marginais, como Zorro, Fantasma ou Batman. Agora não. Para sair na rua ou entrar num supermercado, fora levar uma borrifada de álcool gel nas mãos, temos que usar máscaras. De repente viramos um bando de mascarados. Quem imaginaria que tivéssemos de decifrar as pessoas pelo olhar somente? Até parece que ficamos todos iguais, de vez que a beleza ou a feiura, se esconderam por detrás de um paninho. Mas, se a máscara, poderia, como pensam alguns, tornar as pessoas mais iguais, não é verdade. Nem a máscara unificou as pessoas. Há máscaras e mascaras, de fato. Não porque, na prática, acaba virando um acessório de moda. Já existe uma diversidade de cores, de estampas, de formas que até mesmo as máscaras já não iguais. Pode-se até pensar que, pelo menos, para as mulheres, que ficam dispensadas do uso de maquiagem, a máscara as torna mais iguais. Mas, não é verdade. Mesmo mascarada os olhos mostram as diferenças e/ou o aroma sutil de um Chanel nº 5 diz mais sobre uma mulher do que a imaginação poderia supor. E, depois, as mulheres. Ah!, as mulheres são cheias de meneios, de formas, de sutilezas que as tornam sempre muito diferentes. Se bem que se, agora, podemos parecer tão iguais, efetivamente, nunca fomos iguais e isto é flagrante, mesmo entre os mascarados dos supermercados, pelos carrinhos, cheios ou não, pelos que nem vem aos supermercados por não terem como pagar suas mercadorias. A máscara somente nos mostra que a fragilidade é humana. Só nos mostra que, apesar de tudo que construímos ou fizemos, de termos ido à lua ou prometermos viagens a Marte, quando se trata da própria vida, do controle do próprio destino, o homem, por mais diferente que seja, continua a ser um ser indefeso, um animal, como outro qualquer, impotente diante das forças da natureza que o cerca. De tal forma que, por mais que nos torne mais iguais, esta uniformidade facial, qualquer que seja a cor ou a estampa, não encobre nada das diferenças humanas. Pode, por um momento, esconder quem é mais rico ou pobre, elegante ou mal vestido, porém, as diferenças sociais, a hierarquia social, permanece mesmo na desgraça comum, na vulnerabilidade de todos. Por mais que pareça que todos podemos adoecer e morrer da mesma forma, não é assim. É verdade que todos estamos, mais ou menos, desprotegidos diante do vírus, porém, ter dinheiro sempre, na nossa sociedade, faz diferença. Uma coisa é se sentir mal e ir parar num hospital público ou ter um plano de saúde ou capacidade de pagar os melhores hospitais. É verdade também que um vírus veio da China e tirou tudo do lugar, mas, não será um simples pedaço de pano que nos irá tornar mais iguais. Infelizmente isto somente acontecerá com muito mais tempo, cultura e educação. As máscaras, é verdade, servem para nos lembrar da nossa condição humana e de que, nunca seremos iguais, senão na morte.
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A POLITICA VISTA POR UM POETA ( SILVIO PERSIVO
Colaborador do quenoticias.com.br, Silvio Persivo é Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. E-mail: silvio.persivo@gmail.com