Os caminhos que cruzam o julgamento de Bolsonaro e as eleições de 2026

28 de março de 2025 35

Jair Bolsonaro (PL) se tornou réu, ao lado de sete aliados, por uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2026. O acolhimento das denúncias contra ele pelo STF (Supremo Tribunal Federal) altera a condição jurídica do político, mas também sua estatura e poder de influência nas eleições de 2026, tanto para aliados quanto para adversários na corrida.

O ex-presidente considera que o processo criminal foi aberto com o objetivo de tirá-lo das urnas. “Querem impedir que eu chegue livre às eleições porque sabem que, numa disputa justa, não há candidato capaz de me vencer”, disse após o julgamento.

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Em busca de sustentação

Bolsonaro já está inelegível e, portanto, fora da corrida até 2030 por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o condenou por cometer abuso de poder econômico e político na campanha eleitoral de 2022, mas ainda confiava na recuperação dos direitos políticos por meio do Legislativo, com um projeto de anistia. Horas após tornar-se réu, ele voltou a dizer que, para 2026, há três opções: “Jair, Messias e Bolsonaro”.

As possibilidades de uma eventual anistia diminuem [com a abertura do processo], abrindo espaço para que outras lideranças da direita ganhem espaço. Acontece que o ex-presidente restringe essas brechas, não apenas por estratégia eleitoral, mas porque não confia na divisão de poder com os aliados”, disse à IstoÉ Karolina Roeder, cientista política e professora da Uninter-PR.

Enquanto o principal nome da direita radical se esquiva dos problemas com a Justiça e mantém a bandeira fincada para a próxima corrida ao Palácio do Planalto, outros nomes de seu campo e do oposto utilizam as decisões do STF para fazer seus próprios movimentos, sempre com 2026 no radar.

Olho no lance

Escolhido por Bolsonaro para acompanhá-lo em importantes aparições públicas e apontado por aliados como sucessor natural do ex-presidente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), saiu em defesa do ex-chefe.

“Sabemos que esse não é o primeiro e não será o último desafio a ser enfrentado, mas sabemos também que a verdade prevalecerá e sua inocência será comprovada. Estou certo de que Bolsonaro conduzirá esse processo com a coragem que sempre motivou todos ao seu redor. Siga contando comigo e com os milhões de brasileiros que estão ao seu lado”, escreveu no X (antigo Twitter). Na segunda-feira, 24, Tarcísio prometeu testemunhar a favor do aliado no Supremo.

Com declarações do tipo, o governador demonstra fidelidade a Bolsonaro para evitar seguir o caminho de exemplos conhecidos. Nas eleições de 2022, enquanto se elegia com apoio do ex-chefe, bolsonaristas arrependidos como os ex-deputados Joice Hasselmann (Podemos) e Alexandre Frota (PDT) não renovaram seus mandatos, e o ex-governador João Doria (PSDB) desembarcava do Palácio dos Bandeirantes com uma candidatura frustrada à Presidência da República na bagagem.

Para Tarcísio, “soltar a mão” do antigo chefe oferece mais riscos ao seu futuro político do que tardar a lançar o nome na praça para o Planalto. “O governador esteve em manifestações contrárias ao STF, não condenou os atos criminosos do 8 de janeiro e evita criticar o ex-presidente. Isso acontece porque ele precisa de Bolsonaro até para uma recondução ao cargo que ocupa”, disse Lilian Sendretti, cientista política e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), à IstoÉ.

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Tarcísio de Freitas abraça Bolsonaro: governador de São Paulo não tardou a defender aliado após acolhimento de denúncias pelo STF

Em agendas públicas na quarta-feira, os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foram mais amenos do que o chefe do Executivo paulista, mas evitaram apunhalar o ex-presidente.

O goiano defendeu que Bolsonaro tenha “garantido todo o trâmite legal, com direito à apresentação de testemunhas e ampla defesa”, enquanto o paranaense disse que o julgamento deveria ocorrer no plenário do Supremo — o processo ficou nas mãos da Primeira Turma da corte, integrada por cinco ministros conhecidos por posicionamentos firmes quanto aos inquéritos da trama golpista.

Ao contrário de Tarcísio, a dupla ainda “corre por fora” em pesquisas nacionais para 2026, e adota posicionamentos distintos quanto à candidatura. Caiado diz que concorrerá, independentemente do desejo de Bolsonaro, faz críticas públicas ao ex-presidente e travou uma disputa contra ele em Goiás nas eleições municipais de 2024. Ratinho é menos verborrágico e, embora não abrace por completo a “cartilha” do bolsonarismo, faz deferências ao político do PL. No geral, quem o coloca na corrida é Gilberto Kassab, presidente de seu partido.

“Para os nomes alternativos, a estratégia é não atrelar suas próprias imagens a Bolsonaro e, ao mesmo tempo, evitar desagradar sua base de apoio. Ficar ‘em cima do muro’ é mais salutar para eles, do ponto de vista eleitoral“, afirmou a professora da Uninter.

Outros concorrentes ao espólio de Bolsonaro, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2024, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), não se pronunciaram sobre o julgamento.

Um a menos

Na raia governista, o presidente Lula (PT) até falou pelo respeito aos ritos do processo, mas enfatizou ser “visível que o ex-presidente tentou dar um golpe no país e contribuir para o meu assassinato, para o assassinato do vice-presidente, para o assassinato do ex-presidente da Justiça Eleitoral brasileira“.

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Lula: presidente dobra aposta na associação de Jair Bolsonaro com extremismo e ruptura institucional

Desde que derrotou Bolsonaro nas urnas, em 2022, o petista busca associar o oponente e seu grupo político a posturas de extremismo e ruptura institucional, narrativa que foi reforçada na ampla reação aos atos criminosos de 8 de janeiro de 2023 e ganha novo fôlego com a abertura do processo criminal sobre a trama golpista.

Explorando a narrativa, figuras centrais do governo, como a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, celebraram o julgamento e reforçaram o argumento de que ele correu de forma legal, opondo-se à hipótese de parcialidade do Judiciário. “É muito significativo que esta decisão tenha sido tomada à luz dos fatos apresentados na denúncia da PGR, no curso do devido processo legal, com garantia ampla do direito de defesa aos acusados”, escreveu a petista.

Analistas e políticos que cercam o Planalto levantam dúvidas quanto ao saldo, para Lula, de não ter Bolsonaro nas urnas em 2026. “O impacto [da abertura do processo] é mais positivo para Tarcísio do que para o presidente”, concluiu Karolina Roeder.

 

Fonte: Leonardo Rodrigues