Para entender a tal crise do PSL

22 de outubro de 2019 838

O Partido Social Liberal é hoje a mais legítima expressão da necessidade de uma profunda reforma política no país. Para entender sua atual crise, mais contribuem perguntas do que pretensas explicações. Vamos a alguma delas.

A primeira: você acredita que todos os que se candidataram pelo PSL acreditavam que Bolsonaro seria eleito? Eu não acredito. Pra mim muitos foram na onda do Mito, mas sem crer que ele seria tão bem sucedido.

Esperavam, sim, ser eleitos pela onda e depois poderem optar, já no segundo turno, por um candidato a presidente com o um único requisito: estar mais à direita do que o PT. E isso se repetindo no nível estadual, principalmente nos estados em que o PSL elegeu governadores.

A segunda pergunta: dos que se aproveitaram da onda Bolsonaro, mesmo somando os que acreditavam que ele poderia ser eleito, quantos desejavam que ele fosse eleito? Eu acho que apenas alguns. Outros já anteviam que teriam dificuldade de relacionamento. E torciam calados – quem era o doido de se expor? – para se ver livres dele, principalmente entre a proclamação do resultado do 1º turno e a realização do 2º turno.

Terceira pergunta: inaugurado o governo e até que fossem empossados os novos congressistas, não sendo beneficiados com distribuição de cargos, quantos parlamentares do PSL já começaram a torcer para a facada infeccionar e passarem a faixa pro General Mourão? Eu acho que muitos eleitos, antes de receberem seus primeiros trocados como parlamentares, buscaram assediar Bolsonaro para que lhes viabilizasse um forma até mesmo lícita de se socorrerem financeiramente para fazer frente às dívidas de campanha.

Quarta pergunta: uma vez empossados e se sentindo empoderados, quantos chegaram mesmo a acreditar que o comparativo numérico das cadeiras conquistadas lhes permitia que sua bancada fosse comparada à do PT, onde, goste-se ou não, há uma organicidade no pensamento político e na militância desde as executivas municipais até a direção nacional? Eu não gosto da ideologia do PT, mas vejo que, nesse aspecto, são muito bem estruturados. Tanto assim que é impossível pensar Lula fora do PT, ou o PT fora de Lula.

Então isso é coisa que passa. E como passa. É mero assentamento de terreno. O murro que quebra o espelho deriva da consciência de que não se é o que se imaginava ser. E é o espelho quem se quebra. Na crise existencial, ninguém esmurra a própria cara. Não é plausível, portanto, exigir-se isso dos congressistas do PSL. E menos plausível ainda é enxergar-se no espelho quebrado uma imagem distorcida e sair dizendo por aí que a situação é aquela imagem refletida nos cacos.

Bolsonaro é militar, mas, ainda que seja da artilharia, sabe que o cerco, o bloqueio, a pressão psicológica são tão ou mais importantes que os disparos para se vencer uma batalha. Essa coisa toda vai passar e não vai dar nem documentário da Netflix.

EDSON LUSTOSA

Edson Lustosa é jornalista há 30 anos e coordena o projeto Imprensa Cidadã, do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito e Justiça. Escreve às segundas, quartas e sextas-feiras especialmente para o Que Notícias?.