Pesquisadores encontram vestígios de sangue, inscrições na parede e mais de 300 objetos antigos em escavações no DOI-Codi, em SP

14 de agosto de 2023 116

Pesquisadores de três universidades públicas responsáveis pelo trabalho de escavações arqueológicas no antigo DOI-Codi, um centro clandestino de tortura, na Zona Sul de São Paulo, encontraram vestígios que podem ser de sangue em duas salas do primeiro andar e mais uma inscrição importante, com um calendário, no banheiro do segundo andar do prédio.

O trabalho busca esclarecimentos das violações cometidas durante ditadura militar no Brasil (1964 - 1985) . Ele começou a ser feito no no dia 2 de agosto e será concluído na tarde desta segunda-feira (14).

Segundo André Zarankin, foram encontrados entre 350 a 400 objetos. Dentre eles, um vidro de tinta para caneta e carimbo no espaço onde os sequestrados eram fichados.

"Frasco de tinta para carimbos, elementos que em si só não são muito, mas que junto com as histórias dos prisioneiros ganham outra representação", disse o pesquisador.

Os pesquisadores consideram as inscrições na parede do banheiro como o grande fato e um símbolo da resistência das pessoas que passaram pelo local.

Pesquisadores começaram os trabalhos no dia 2 de agosto e encerram na tarde desta segunda (14) — Foto: Renata Bitar/g1

Pesquisadores começaram os trabalhos no dia 2 de agosto e encerram na tarde desta segunda (14) — Foto: Renata Bitar/g1

Frentes de trabalho

Foram três frentes de atuação, voltadas para escavaçãoinvestigação forense e Arqueologia Pública, sendo a última responsável pela realização de visitas guiadas (mediante agendamento), mesas de debates e oficinas para professores da rede pública de ensino, previamente selecionados.

A equipe de arqueologia pública recebeu mais de 800 pessoas distribuídas nas visitas guiadas e realizou oficinas para cinco escolas públicas. Foram feitas duas oficinas de formação para professores do ensino básico e uma oficina de arqueologia forense para graduandos em Arqueologia e história.

Durante os trabalhos, os pesquisadores buscaram vestígios que possam ajudar na compreensão do que acontecia naquele espaço durante o período antidemocrático.

Buraco escavado até a construção original para ver as diferentes camadas, os diferentes materiais — Foto: Renata Bitar/g1

Buraco escavado até a construção original para ver as diferentes camadas, os diferentes materiais — Foto: Renata Bitar/g1

"A materialidade do edifício explica como a repressão aconteceu naquele espaço. Estudando melhor podemos descobrir tudo o que foi modificado no edifício ou então acrescentado nele para torná-lo um lugar mais repressivo", explica a doutora em história Fernanda Lima.

Fernanda faz parte do Grupo de Trabalho (GT) DOI-Codi, formado por arqueólogos e historiadores da Universidade Estadual de 10 instituições, dentre elas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Pesquisadores utilizando georadar na sede do antigo DOI-Codi — Foto: Reprodução/Marco Ankosqui

Pesquisadores utilizando georadar na sede do antigo DOI-Codi — Foto: Reprodução/Marco Ankosqui

Em 2022, o GT realizou as primeiras ações no local. Por meio de um georradar, a equipe de Arqueologia Forense pôde mapear os edifícios para identificar portas e janelas escondidas atrás de paredes, por exemplo. Os dados obtidos na ocasião seguem em análise.

Como a sede do antigo DOI-Codi é tombada pelos órgãos de preservação estadual e municipal (Condephaat e Conpresp), os pesquisadores tiveram que pedir autorização de ambos e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para realizar as intervenções previstas na próxima etapa. As liberações ocorreram entre dezembro de 2022 e maio deste ano.

Antiga sede do DOI-Codi em SP — Foto: Reprodução/Deborah Neves

Antiga sede do DOI-Codi em SP — Foto: Reprodução/Deborah Neves

DOI-Codi/SP

 

O Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna ou, simplesmente, DOI-Codi foi um órgão clandestino criado em 1969 e incorporado ao Exército no ano seguinte, quando foi oficializado e recebeu este nome.

Com sede na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, ele foi um dos centros de tortura, assassinato e desaparecimento forçado mais atuantes do país.

Estima-se que mais de 7 mil opositores da ditadura tenham sido torturados nas dependências do órgão durante seu período de atuação, até o início da década de 1980.

Pesquisadores fazem escavações no DOI-Codi, em São Paulo

Pesquisadores fazem escavações no DOI-Codi, em São Paulo

Fonte: Por Renata Bitar, g1 SP — São Paulo