Plano de saúde: médicos do PCC recebiam salário de R$ 10 mil
As apurações do Ministério Público e da Polícia Civil de São Paulo no âmbito da Operação Scream Fake detalharam como o Primeiro Comando da Capital (PCC) construiu uma rede de apoio para sustentar suas atividades, incluindo o “setor da saúde”, que envolve quase 100 médicos e dentistas.
Os profissionais da saúde são recrutados pelo “setor dos gravatas”, que coordena o esquema, e passam a prestar serviços à facção. Esses serviços incluem desde tratamentos especializados até cirurgias estéticas, todos organizados pela facção.
Um dos profissionais investigados foi interrogado e conta que os valores eram considerados altos e transferidos de forma ilícita por meio de transferências de terceiros, mas nunca da advogada que lhe contratou, conhecida por Dra. Iria Rubslaine.
“[…] Afirma que na PII de Presidente Venceslau acabava realizando alguns procedimentos complexos, como reabilitação protética, chegando a cobrar valores entre R$ 10.000,00 e R$ 12.000,00 e, de igual modo, esses pagamentos, às vezes parcelados, eram creditados na conta da declarante junto a Caixa Econômica Federal por transferências de terceiros e nunca em nome da Dra. Iria Rubslaine”.
Os atendimentos realizados pelo setor da saúde não são simples consultas médicas. Os profissionais da saúde atendem lideranças de destaque no PCC, que muitas vezes não possuem conhecimento das tratativas de valores e a forma de pagamento, o que segundo as investigações, reforça a centralização das atividades e o controle da organização criminosa.
Outro médico investigado relatou que começou a atender reclusos no ano de 2013 e que deixou claro para a advogada que lhe contratou, Simone Alonso Araújo, que não tinha interesse em se envolver em atividades ilícitas.
“Consignou a Simone que não se envolveria em nada de ilícito e que apenas realizaria seu atendimento médico de maneira profissional. Sendo assim o declarante aceitou a proposta e fez um cadastro junto a unidade prisional e entabulou com a Dra. Simone Alonso o valor de R$ 500 por cada consulta realizada ao recluso/paciente além de R$ 500 referente ao exame de ecodopplercardiograma e R$ 200,00 (duzentos reais) referente ao exame de eletrocardiograma, totalizando o valor de R$ 1.200,00”.
As investigações da Operação Scream Fake, do Gaeco, em parceria com a Polícia Civil, resultaram na prisão de 12 pessoas na última terça (14/1) , incluindo líderes da ONG e advogados ligados ao PCC. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em várias cidades do estado de São Paulo e no Paraná.