Popó x Bambam bomba e chega à Globo, mas legado para esporte preocupa
ÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O card encabeçado pelo duelo entre o ex-campeão de boxe em duas categorias de peso Acelino "Popó" Freitas e Kleber Bambam, que ganhou fama ao ser campeão da primeira edição do reality show Big Brother Brasil, marcado para este sábado, em São Paulo (SP), explicita a popularidade do boxe de entretenimento.
A Rede Globo anuncia a exibição da luta principal na TV aberta após o Supercine, às 2h45 da madrugada de domingo.
A modalidade, tanto no Brasil como no exterior, tem como um dos diferenciais em relação ao boxe tradicional a participação de celebridades e influenciadores com legiões de seguidores.
Na última vez que a Globo havia exibido um card de boxe também contemplou a modalidade de entretenimento, com o choque entre os ex-campeões do UFC Anderson "Spider" Silva e Tito Ortiz e a luta entre o ex-campeão unificado dos pesados e cruzadores de boxe Evander Holyfield e o ex-campeão do UFC Vitor Belfort, em 11 de setembro de 2021.
A reportagem apurou com fonte do canal que pesa em favor de cards como esses o potencial de audiência, atratividade dos "nomes" envolvidos, a promoção de luta, além do fato de eventos ao vivo estarem em alta.
O CEO do Fight Music Show, que promove Popó x Bambam, Márcio "Mama" Brito, primo do ex-campeão do UFC Rodrigo "Minotauro" Nogueira e Rogério "Minotouro" Nogueira, revela que as negociações para a estreia do ex-Big Brother duraram dois anos e envolveram viagens para Miami (EUA).
Bambam, que prestigiou eventos de boxe no Brasil nos últimos meses, afirma se preparar há meses. Ele postou alguns clipes de seus treinos de sombra (movimentação sem contato) e no saco de pancada, mas nada de alguma relevância.
A popularidade do boxe de entretenimento deve-se em boa parte à participação de celebridades e de influenciadores, que ajudam a amealhar um novo público, explica Mamá. Na edição deste sábado, haverá também um confronto entre o Nego do Borel e MC Gui.
"É o garoto que gosta de cultura pop e fica curioso em assistir o [comediante, youtuber e ex-rival de Popó] Whindersson Nunes no ringue, é a senhora que consome notícias do Big Brother Brasil, se espanta com o Bambam no boxe, e quer conferir; a ideia é atrair aqueles que não seguem o boxe normalmente", diz.
Existem, ainda, outros "ingredientes" que ajudam a capturar a imaginação do público. Um é fruto das provocações da parte de Bambam.
"Você vai ver o evento porque acha possível que o Bambam vença Popó, vai conferir porque ele fala tanto", argumenta Mamá. "O Bambam deve pesar uns 20 kg a mais do que o Popó, e você sabe que quando uma mão pega, não tem jeito", justifica Geysa Carini, presidente do CNB (Conselho Nacional de Boxe), que passou a supervisionar os eventos do Fight Music Show desde a edição passada.
"Também tem a questão do 'trash talking'; o Bambam tem falado muito, e tem sido muito eficiente nesse quesito, então muita gente vai assistir o card justamente esperando ver o Popó calar o Bambam", complementa Geysa.
Por se tratar de um encontro entre um ex-campeão em duas categorias e um estreante, as regras do boxe tradicional foram adaptadas para que, em tese, o castigo sofrido seja atenuado. A duração dos assaltos foi reduzida de três minutos para dois, mantendo-se um minuto de intervalo, assim como o número de assaltos das lutas foi limitado. As luvas, de 12 onças, são maiores do que as do boxe tradicional, além de os limites das categorias de peso serem mais maleáveis para evitar perda de peso exagerada, prejudicial à saúde.
Diferentemente do que acontece nas exibições, onde tradicionalmente o resultado é o empate, um dos atletas terá de ser decretado vencedor.
"A supervisão da parte de uma entidade do boxe garante a integridade física; o desafio entre Popó e Bambam terá um árbitro profissional, experiente para eventualmente perceber se o castigo está indo longe demais; além disso, em eventos oficiais do CNB é obrigatória a presença de um médico de ringue e de uma ambulância", argumenta Geysa.
Se há membros da fraternidade pugilística que torcem o nariz para o boxe de entretenimento, uma nova geração recebe com entusiasmo e assiste sem preconceito a esse tipo de evento.
"Vou assistir, sem dúvida, é mais uma chance de ver boxe [na TV aberta], faz tempo que isso não acontece", festeja a peso-pena profissional Lila Furtado, do Coliseu Boxe Center. "Vai ter o Popó, a luta feminina da mulher do Popó [Emilene Freitas] e uma modelo [Fernanda Lacerda, a 'Mendigata'], que vai mostrar que mulher pode lutar sem deixar de ser feminina."
Ao mesmo tempo, os desportistas questionam porque não aproveitar a popularidade do entretenimento para divulgar talentos do boxe tradicional, a exemplo do que acontece nos cards do youtuber americano que virou atração no boxe profissional Jake Paul, que trazem em suas preliminares apresentações da campeã unificada dos pesos-penas Amanda Serrano.
"Gosto desses cards de entretenimento, mas [no Brasil] faltam lutas de boxe tradicional, com atletas do boxe tradicional", sugere o técnico Jefferson Acácio, também do Coliseu. "Com certeza eu participaria de um card misto, que tivesse o boxe de entretenimento e o tradicional", complementa, entusiasmada, Lila.
Não necessariamente, como alguns criticavam no início do fenômeno, o boxe de entretenimento ocupa o espaço do tradicional.
"Tem gente de alto nível, como o [ex-campeão mundial] Patrick Teixeira, que no Brasil não consegue luta na TV, talvez se não tivesse sido ocupado pelo boxe de entretenimento, esse espaço na TV Globo, por exemplo, não existiria para nenhum tipo de boxe", argumenta Geysa.
"O pulo do gato é ir abrindo espaço na mídia com programações como esse do Fight Music Show, e talvez ir encaixando lutas de boxe tradicional com o tempo", acrescenta Mamá.
Um movimento nessa direção é que na edição deste sábado, pela primeira vez, haverá um duelo nas regras do boxe tradicional no card, entre Fabio "Caipira de Aço" Maldonado, boxeador que ganhou mais notoriedade no MMA, e Leonardo "Leleco" Guimarães.