Prédio decadente, falta de dinheiro e abandono, assim Lindomar Garçon assumiu prefeitura de Candeias, em Rondônia

Lindomar Garçon deve exercer o cargo por cerca de cinco meses, já que a eleição suplementar não anula a eleição municipal. Mas isso não significa que ele terá tranquilidade

Eleito em 9 de junho deste ano, em pleito suplementar, o ex-deputado federal Lindomar Garçon (Republicanos) deparou-se com a triste realidade da prefeitura de Candeias do Jamari, cidade distante 20km da capital de Rondônia, Porto Velho. A sede da prefeitura reflete bem o cenário de abandono e decadência da cidade que deveria ser um modelo de prosperidade.

Instalações elétricas precárias, falta de água nos bebedouros, móveis quebrados e computadores defasados, baixa estima dos servidores, tudo isso num cenário de poeira e fumaça que cobre Rondônia nas últimas semanas, em decorrência de queimadas registradas no vizinho estado do Amazonas. E para piorar ainda mais o quadro, falta de dinheiro no caixa da prefeitura e dívidas.

Esta semana, em operação do Ministério Público com autorização do judiciário, o presidente da Câmara de Vereadores, Francisco Aussemir de Lima Almeida, que havia assumido o comando do município antes da eleição suplementar, foi afastado da função pública por suspeita de corrupção. Ele e outros dois servidores, foram acusados pelo MP de exigir propina como condição para liberar pagamentos de créditos devidos a prestadores de serviço ou fornecimento de mercadorias àquele Município.

O ex-prefeito de Candeias, Valteir Queiroz havia sido cassado pela Câmara Municipal em 2023 por unanimidade. Seu vice, Toninho Cerejeiras (PSB), assumiu e em novembro do mesmo ano também foi cassado, sendo substituído por Aussemir, que agora responde por corrupção.

No meio desse embróglio, Garçon foi eleito com pouco mais de 7 mil votos, com um índice de abstenção de quase 40% do eleitorado, composto por cerca de 18 mil eleitores. A apuração completa demorou menos de uma hora. O TSE diz que 130 pessoas votaram em branco e outros 252 anularam o voto.

Lindomar Garçon deve exercer o cargo por cerca de cinco meses, já que a eleição suplementar não anula a eleição municipal. Mas isso não significa que ele terá tranquilidade. Estive em Candeias na última quarta-feira e o cenário é desolador. Veja abaixo alguns registros do prédio da prefeitura:

Fiação do ar condicionado exposta
Estrutura de janelas enferrujadas e vidros que não abrem mais
Bebedouros quebrados e fiação exposta
Pombos vivendo no telhado quebrado do gabinete do prefeito

O cenário externo mostra o estado de abandono que reflete internamente

O prefeito disse que pretende se inteirar da real condição da prefeitura. Desde que assumiu, passou a se reunir com servidores para tentar compreender como o município está em condições tão precárias. Garçon lamentou o estado de abandono dos prédios da cidade, e afirmou que espera poder contar com a ajuda da Câmara para tirar o município do buraco em que se encontra atualmente, "vou tentar buscar ajuda junto à bancada federal e aos deputados estaduais para que possamos realmente fazer um mutirão para resolver, ao menos nesse primeiro momento, a situação caótica que Candeias se encontra", disse o prefeito. Mas ele sabe que não será fácil.

Garçon foi eleito com pouco mais de 7 mil votos

Seis prefeitos em sete anos

Em sete anos, seis prefeitos passaram por Candeias do Jamari. Apenas um deles (Lucivaldo Fabrício), conseguiu concluir o mandato. Alguns dos escolhidos ficaram no cargo por menos de cinco meses.

Em 2016, Francisco Vicente de Souza, mais conhecido como Chico Pernambuco, foi eleito prefeito de Candeias do Jamari com 3.361 votos. Seu vice era Luís Ikenohuchi. Os dois foram diplomados em dezembro e assumiram oficialmente a prefeitura em janeiro de 2017.

Três meses depois da posse, Chico Pernambuco foi assassinado na frente da própria residência com dois tiros no peito e um no rosto. Cinco pessoas foram condenadas pela morte. A polícia apontou que a motivação do crime foi discordâncias entre o então prefeito e financiadores de sua campanha.

Depois da morte de Chico Pernambuco, o vice, Luís Ikenohuchi, assumiu a prefeitura do município e ficou no cargo por cerca de dois anos, antes de ser afastado em fevereiro de 2019. O afastamento foi decidido pelos vereadores de Candeias do Jamari durante sessão.

A Câmara montou uma CPI para apurar suposto crime de improbidade administrativa cometido pelo prefeito. Por 7 votos a favor e 1 contrário, os vereadores de Candeias do Jamari decidiram pelo afastamento.

Após o resultado da sessão, o presidente da Câmara de Vereadores, Lucivaldo Fabrício de Melo, assumiu o cargo de prefeito interino.

Em maio, o Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RO) decidiu convocar novas eleições em Candeias do Jamari. A votação aconteceu no dia 7 de julho de 2019 e o Lucivaldo Fabrício foi eleito prefeito com 39,77% dos votos válidos. O vice-prefeito eleito foi o militar reformado André Silva Bem.

Em novembro de 2020, aconteceram as eleições municipais regulares. Na ocasião, Valteir Queiroz foi eleito com 46,37% dos votos. O vice escolhido foi Toninho Cerejeiras.

Valteir foi afastado do cargo em junho de 2023, cerca de três anos depois, durante uma operação da Polícia Civil contra corrupção. Na ocasião, ele se tornou suspeito de envolvimento em fraudes em licitações e de falha na prestação de serviços públicos.

Depois da cassação de Valteir, em julho, seu vice, Antônio Onofre de Souza (PSB), o Toninho Cerejeiras, assumiu a prefeitura de Candeias. Mas a coordenação do novo prefeito não durou muito.

Em novembro de 2023, Toninho Cerejeiras também foi afastado do cargo de prefeito. A assessoria da prefeitura confirmou a mudança do comando do município e destacou que o afastamento do então prefeito foi uma medida decorrente de uma investigações em curso

A decisão em afastar Toninho Cerejeiras foi tomada durante a sessão ordinária realizada no dia 13 de novembro.

Depois de tantas mudanças, Aussemir Almeida assumiu interinamente a prefeitura de Candeias do Jamari. Até então, ele ocupava o cargo de presidente da Câmara de Vereadores. Ele deixou o cargo após a eleição de Lindomar Garçon.