Presidente peruano nega corrupção no caso Odebrecht
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, rebateu neste domingo as acusações de corrupção e defendeu sua honestidade, dias antes de uma votação no Congresso sobre a sua destituição, pela acusação de recebimento de dinheiro ilegal por assessoria à empreiteira brasileira Odebrecht.
"Eu não menti, não sou corrupto. Se fosse corrupto eu faria estas transações bancárias pagando impostos? Estas são empresas registradas nos Estados Unidos, que pagam impostos", disse Kuczynski em uma entrevista para jornalistas de cinco emissoras de televisão.
No início da entrevista, o presidente de 79 anos pediu desculpas por não ter explicado corretamente suas ligações com a Odebrecht, acusada de pagar propinas a funcionários públicos e políticos da América Latina em troca de obras públicas.
O Congresso, controlado pela oposição, vai votar na quinta-feira um pedido para destituir Kuczynski por incapacidade moral, sob a acusação de ter ocultado que empresas vinculadas a ele prestaram assessorias por quase cinco milhões de dólares a Odebrecht.
São necessários 87 de 130 votos no Parlamento para a destituição, um número que a oposição pode alcançar. O movimento de direita Força Popular, que pressiona Kuczynski desde o início de seu mandato em julho de 2016, exigiu sua renúncia para evitar o processo de destituição.
"Aqui o que está acontecendo é um ataque à ordem constitucional. Estão tentando fazer uma vacância 'express' (da presidência)", denunciou Kuczynski.
Uma pesquisa divulgada no domingo mostrou que 57% dos peruanos acreditam que Kuczynski deve deixar o cargo, contra 41% que consideram que o presidente deve completar o mandato de cinco anos, até julho de 2021.
A Odebrecht revelou que pagou quase cinco milhões de dólares por serviços de assessoria a empresas vinculadas ao presidente entre 2004 e 2013. A empresa afirmou, no entanto, que os pagamentos foram realizados de forma legal e não contaram com a participação do presidente.
Do total, 782.000 dólares foram destinados a Westfield Capital, empresa de Kuczynski, quando ele era ministro da Economia e presidente do Conselho de Ministros do governo de Alejandro Toledo (2001-2006). Outros 4,05 milhões foram destinados para a First Capital, empresa de um ex-sócio.
Kuczynski descartou um conflito de interesses porque enquanto ele era ministro, todos os seus negócios foram administrados por seu sócio, o chileno Gerardo Sepúlveda.
Ele recordou que pediu a quebra de seu sigilo bancário e que está disposto a ser investigado pelo Ministério Público e o Congresso.
Em meio às acusações, o ministro do Interior, Carlos Basombrío, pediu demissão, mas o presidente afirmou que não aceitou e que espera convencê-lo a permanecer no cargo.
A Odebrecht admite que pagou 29 milhões de dólares em subornos para ganhar contratos de obras no Peru entre 2004 e 2015, período que envolveu os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), quando Kuczynski foi ministro, Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).
Humala está em prisão preventiva, acusado de receber três milhões de dólares para a campanha eleitoral de 2011. Toledo é objeto de uma ordem de extradição dos Estados Unidos, acusado de receber 20 milhões de dólares em um suborno para conceder a Odebrecht a construção de uma estrada.
Kuczynski pode se o segundo presidente do Peru no século XXI destituído por incapacidade moral pelo Congresso.
No fim do ano 2000, Alberto Fujimori, condenado por crimes de corrupção e contra a humanidade, foi destituído da presidência.