PROCURADOR: PROMISCUIDADE. Essa É A Conclusão Que Se Tira Do Atual Quadro Político Brasileiro.
PROMISCUIDADE. Essa é a conclusão que se tira do atual quadro político brasileiro. Poucas vozes se levantam com autoridade moral. O que há são acusados ligando para ministros, compra e venda de votos no Congresso, barganhas com a vida e a dignidade de seres humanos, movimentos que se dizem livres, mas que servem apenas para encenar falsa indignação e alcançar alguma sinecura, e por aí vai.
Excelente entrevista com Cláudio Lembo:
Distante da política, o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo, 83, se vê como um observador neutro da vida pública nacional. Um dos fundadores do PFL (atual DEM) e filiado desde o início ao PSD, o advogado e professor universitário diz estar “isolado do mundo”.
Mas os olhos sob as espessas sobrancelhas dele seguem acompanhando fatos como o impeachment de Dilma Rousseff (do qual discordou) e a nova aventura eleitoral de Geraldo Alckmin (de quem foi vice). Em 2006, Lembo assumiu o governo após o tucano renunciar para tentar a Presidência. O ex-político falou à Folha em seu escritório, na região da avenida Paulista.
Folha – Como o sr. vê o Brasil?
Cláudio Lembo – Perdeu-se a compostura. Nós, eleitores, votamos mal e os políticos se portam mal. Ninguém mais tem honra, respeito a si próprio, à imagem na sociedade.
Como se chegou a esse ponto?
É um processo histórico. Nossos políticos sempre foram corruptos, as eleições são muito caras. Quem deformou a eleição foram os marqueteiros. Com as montagens cinematográficas de TV, veio a corrupção generalizada. E os empresários são corruptos tradicionalmente. Desde Mauá.
E a corrupção permanece depois da campanha?
Sim. Depois vem o vício. Antigamente o político abria mão do patrimônio para construir a carreira. Hoje ele se torna rico na política. Tudo isso é parte da deformação brasileira.
Quando concorreu a vice, o sr. identificava isso?
Não, porque eu vim por um caminho externo. Fui indicado para o Geraldo.
O sr. participou dessas conversas de campanha?
Não, nada, nada, nada. O Geraldo é muito fechado. [Ficava tudo centralizado] nele. O tucanato que fez tudo.
Algum partido está a salvo?
Não, ninguém. É um inferno generalizado. Você vê: o PT veio como um partido para salvar. Não há nada mais salvático que o PT, na origem. Uma busca da pureza, unindo a Igreja Católica da Teologia da Libertação, os intelectuais da USP, o operário lutador. E deu nisso que está aí.
O ex-ministro Antonio Palocci comparou o PT a uma seita.
Pode ser uma máfia, mas não uma seita. Seitas têm um líder religioso. Ali tem uma máfia com um líder mafioso.
Que seria quem? Lula?
É Lula. Simpático, porém mafioso. Dominou um grupo.
A pesquisa Datafolha mostra o petista em primeiro lugar na intenção de voto em 2018.
Mas no dia seguinte a pesquisa mostrou que o povo quer ele preso! O Brasil é um país muito incongruente [risos], não “fecha”. É louco.
O que o próximo presidente precisaria fazer?
Primeiro, um grande ministério. Mas aí ele não consegue apoio no Congresso. É aquilo: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E o Congresso está acostumado ao estilo Temer e ao estilo Lula. Com estilo Dilma, cai! [risos]
O Niemeyer construiu um monstro. A praça dos Três Poderes é a ágora da promiscuidade. O Supremo, o Legislativo e o Executivo, tudo juntinho, todo mundo conversa. O Temer vai falar com o Gilmar [Mendes]. Para quê? Ele é ministro do Supremo, tem que manter imparcialidade total.
Fala-se que o Judiciário age como um ator político e que o Supremo está politizado.
Tem agido muito mal, entrando em assuntos que não são da sua competência. O Supremo está fraco, virou uma casa de surpresas.
O sr. conviveu com Alckmin. De que forma avalia a situação dele na disputa presidencial?
Difícil. Ele parte de um Estado que não tem penetração no país. São Paulo é muito paulista. Alckmin precisa conquistar o Brasil profundo.
Como vê as disputas e trocas de farpas dentro do PSDB?
É próprio do partido. É partido de intelectual, falso intelectual, entende? Eles criam conflitos artificiais e vaidades pessoais muito grandes.
O sr. já disse que estamos na mãos de “uma burguesia má, uma minoria branca perversa”.
E continuamos. Tudo igual. Uma parte dela foi para a cadeia e a outra parte continua no comando. A elite branca é a dona do Brasil. É hegemônica, é o vértice da sociedade.
–
RAIO-X
Nome
Cláudio Lembo (83 anos)
Formação
Bacharel em ciências jurídicas e sociais pela USP e doutor em direito pela Mackenzie
Carreira
Um dos fundadores do PFL (depois DEM), é filiado ao PSD. Foi vice-governador de SP (2003-06) e governador (2006)
Atuação
É professor e advogado
VIA FOLHA