Qual crise? Facebook imparável com receitas de publicidade

26 de abril de 2018 793

A anatomia de uma crise no Facebook não se faz olhando para as suas contas, porque as receitas e lucros da rede social saíram incólumes dos problemas no primeiro trimestre. A reação de Wall Street demonstra a surpresa positiva destes resultados, premiando a empresa de Mark Zuckerberg com uma subida de 7,33% nas trocas fora de horas. É que, apesar de abalado por sucessivos escândalos relacionados com segurança e privacidade, o Facebook bateu as expectativas dos analistas com crescimentos significativos em toda a linha. O número mais interessante da apresentação de resultados é o peso da publicidade em dispositivos móveis: disparou 60% para 10,7 mil milhões de dólares e já representa 91% do total. Isto significa que a estratégia de colocar novos formatos de anúncios nas Stories do Instagram e na app móvel do Facebook está a correr bem à empresa, sem sinais de recuo apesar da crise das notícias falsas e da Cambridge Analytica. David Wehner, diretor financeiro da gigante de Menlo Park, revelou que o preço médio dos anúncios aumentou nada menos que 39% e que as impressões por anúncio subiram 8%.

O bom desempenho também foi visível nos indicadores de utilização, que não sofreram impacto e até cresceram. No final de março, já depois de conhecido o caso Cambridge Analytica, o Facebook registava uma subida de 13% no número de utilizadores diários (2,2 mil milhões) e mensais (1,45 mil milhões). O CEO Mark Zuckerberg e a diretora de operações Sheryl Sandberg mostraram-se satisfeitos na conferência com analistas que se seguiu à apresentação de resultados. “Foi um excelente trimestre para o nosso negócio”, destacou a número dois da empresa, referindo a importância do lançamento de novos formatos de publicidade, em especial para smartphones. A executiva fez questão de reiterar que o Facebook “não vende” informações dos utilizadores aos anunciantes nem revela a identidade de ninguém. É algo que Zuckerberg disse várias vezes aos legisladores norte-americanos quando foi interrogado no congresso há duas semanas. O CEO também se congratulou com o “forte início de ano” que tanto a comunidade como o negócio demonstraram e passou a maior parte da sua intervenção inicial a garantir que está empenhado em corrigir os erros do passado. “Vamos investir ainda mais para desenvolver experiências que conectam as pessoas”, afirmou, prometendo que “nos próximos três anos” a rede social será um melhor lugar para as pessoas e para a sociedade. O que a rede é de certeza neste momento é um bom lugar para os seus investidores. No total, o volume de negócios do Facebook cresceu 49% para 11,96 mil milhões de dólares, um resultado muito sólido que desafia a turbulência. Destes, 11,79 mil milhões vieram de publicidade. Quaisquer outras receitas que a empresa possa ter são, até ver, irrelevantes. Os lucros líquidos subiram ainda mais, 63% para 4,9 mil milhões, e a margem operacional foi de 46%. Muito interessante também é a taxa de impostos efetiva: apenas 11%, bem mais baixa que a maioria dos contribuintes. Neste trimestre, o Facebook contratou 2600 pessoas e os quadros passam agora a contabilizar 27,742 trabalhadores (mais 48% que no mesmo período de 2017). O diretor financeiro revelou que a empresa tem agora 44 mil milhões de dólares em dinheiro e equivalentes, o que é o dobro do que tinha há dois anos, mas deixou um aviso. A entrada em vigor do RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados) vai levar à estagnação ou mesmo quebra do negócio na Europa já no segundo trimestre. Esta diretiva imporá restrições a todas as empresas que detiverem dados sobre cidadãos europeus e dará maior controlo às pessoas sobre a sua informação, o que terá impacto sobre a capacidade de a monetizar para fins publicitários. Mark Zuckerberg fará na próxima semana a primeira aparição pública após as audiências no congresso norte-americano, quando entrar no palco do centro de convenções de San José para abrir o evento anual F8.