QUEM NÃO É ROBÔ ?

25 de fevereiro de 2018 638

Umberto Eco disse que as redes sociais abriram espaço para todos se manifestarem. Antes da web, as tolices eram ditas com a barriga no balcão do boteco. Hoje a plateia é o mundo. A imbecilidade se universalizou.

Mas qual é a relevância da disseminação de todas as opiniões no mundo real? O superlativo divulgado altera, por exemplo, o resultado das eleições?

O tema continua a ser discutido nos Estados Unidos, onde as eleições presidenciais surpreenderam até mesmo o eleito, a se confiar no conteúdo de “Fire and Fury”, o livro que está causando furor ali e no mundo. Credita-se à internet a reiteração de “fake News”, que teriam derrotado a candidata favorita Hillary Clinton.

As opiniões divergem. Há quem diga que o uso midiático dessa milagrosa possibilidade de fazer sua manifestação explícita chegar a um universo incomensurável gerou o recrudescimento do fanatismo. Há razões para acreditar que a inteligência artificial se sirva de algoritmos para enfatizar as posturas radicais de maneira a obter crescente intensificação do fundamentalismo.

Aparentemente, há uma polarização de dois grandes grupos. Um mais conservador e o outro à esquerda. Temas culturais se abrigam sob os guarda-chuvas de ambos. As teses minoritárias encontram guarida na esquerda. Os reacionarismos, à direita.

O fenômeno lamentável é a enxurrada de insultos, de aleivosias, de injúrias e de ofensas veiculadas nas redes. Não se economizam adjetivos cruéis. Destila-se maldade sob múltiplas formas. É o regresso à barbárie, à idade da pedra. Os tacapes são verbais, mas não menos nefastos.

A partir da manipulação da informação, seja ela verdadeira ou falsa, na gradação de milhares tons de cinza que uma falácia pode adquirir, o resultado é uma espécie de “robotização” do fanático. Ele só presta atenção àquilo que coincide com sua concepção do mundo. Ele só quer acreditar naquilo que reforce o seu preconceito, a sua pré-compreensão, a sua visão deformada da realidade.

Não caminha rumo à edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária uma turba irada que não sabe ouvir o outro lado, que não se interessa pela argumentação alheia, que não respeita o outro.

O ano de 2018 promete uma sucessão de espetáculos midiáticos. Nem todos eles edificantes. Quem viver, verá.

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é secretário estadual de Educação e docente da Uninove