Rachadão do Pix: o vôo de Ícaro de Lira

20 de agosto de 2024 59

O parlamento brasileiro deveria agradecer ao ministro Flávio Dino, antes de condená-lo pelo bloqueio das “emendas Pix”. A quem, afinal, esperam convencer os deputados e senadores da própria inocência, quando destinam, sigilosamente, emendas a Prefeituras e afins (ops).

Ora, diabos, as emendas parlamentares existem para que suas excelências enviem recursos às bases eleitorais. É uma forma de mostrar serviço e conquistar votos. Como, afinal, fazer isso no anonimato? Como é que o eleitor poderá saber que seu deputado destinou uma grana para o município? Talvez isso seja exatamente o que interessa: que ninguém saiba qual o endereço da grana.

É evidente que a destinação de emendas sempre geram um generoso cashback. Há exageros, obviamente. Há quem exija estorno de 50% para o bolso parlamentar, mas isso já não é emenda, é rachadinha. Quem aceita e tem que prestar contas, celebra contrato prévio com um tempo na cadeia. De qualquer forma, assim como as rachadinhas originais, quase todo o mundo pratica.

Às vezes dá problema, como aconteceu no caso do senador Flávio Bolsonaro, agravado pela arrogância do pai presidente da República. Se houvesse alguma humildade no trato da coisa, tudo poderia se resolver como mais um caso de valor irrisório, dentro do princípio da insignificância. Mas a fúria de Bolsonaro amplificou a questão de tal forma que não será surpresa se o senador acabar por isso atrás das grades.

Mas, de volta às “emendas Pix”, a reação do presidente da Câmara, Arthur Lira, pode levá-lo a provar o tal “vôo de Ícaro”, sobre o qual advertiu o ministro Flávio Dino. Não é mais uma simples suspeita de escamoteamento de recursos públicos quase diretamente para cuecas parlamentares. As denúncias se multiplicam e basta uma canetada ministerial para a PF sair em campo.

 

Por isso a situação recomenda cautela. Lira sabe que vai perder poder se lhe retiraram a administração das emendas, que tomou do executivo. Especialmente no momento em que se aproxima a eleição de seu sucessor. Isso pode tirá-lo do trono e devolvê-lo ao ostracismo, conforme já aconteceu com tantos superpoderosos que o antecederam. É o que o conduz ao desespero. Que, convenhamos, é um péssimo conselheiro. Melhor entregar os anéis. E preservar as asas.

Fonte: CARLOS HENRIQUE
CARLOS HENRIQUE ÂNGELO (BLOG DO CHA)