Rondônia tem algo a comemorar no Dia do Jornalista? Mataram Brizon e tentaram executar Hamilton Alves: as instituições lavam as mãos
É impressionante o número de mensagens distribuídas por pessoas e órgãos usando a velha e batida frase equivocadamente atribuída a George Orwell. Preocupação e respeito, na prática, não existem...
Porto Velho, RO – No último domingo, 7 de abril, nós, da imprensa, deveríamos comemorar o Dia do Jornalista. Mas não há nada a ser exaltado, especialmente aqui em Rondônia, onde, em pouco mais de um ano, um profissional do ramo foi assassinado à sangue frio e o outro escapou por pouco após levar seis de sete tiros disparados.
Ambos os casos continuam sem respostas. Quem matou Ueliton Brizon? Aliás, quem mandou assassiná-lo?
Quem contratou atiradores para encher de balas o radialista Hamilton Alves, de Jaru? Quem vai bancar as sequelas infligidas pelo atentado?
É nítido o sentimento transitório de carinho e respeito dispendido aos jornalistas quando, na data comemorativa, nossas caixas de e-mail e redes sociais começam a ser bombardeadas com imagens e frases de efeito, principalmente aquela equivocadamente atribuída ao escritor George Orwell.
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”.
Sejamos honestos – até mesmo fatia significativa entre os jornalistas não quer ver publicado aquilo que contraria interesses conservados no mundo das relações públicas, pois, em essência, está curvada aos ditames de uma vida publicitária, amarrada no toco da conveniência política, escorada embaixo da sombra produzida pela árvore da sobrevivência empresarial.
Quem foge às convenções do assessoramento que confunde prestação de serviços com paixão platônica está fadado ao julgamento do tribunal de exceção praticado reiteradamente no vívido faroeste rondoniense, mais conhecido como interior do estado.
E as penas capitais impostas pelo mundo real são muito mais sangrentas que as vistas em qualquer filme do cineasta italiano Sergio Leone, pai do gênero western spaghetti.
Como já abordei minúcias do caso Ueliton Brizon, executado em Cacoal no dia 16 de janeiro de 2018, e devo, mais adiante, esviscerar novos detalhes até então não divulgados, vou me ater, por ora, ao sobrevivente de uma verdadeira tentativa de homicídio.
Taísa Mara, viúva de Brizon, fez questão de relembrar uma frase repetida à exaustão pelo marido assassinado.
"Em um mundo de opressão, uma imprensa independente e corajosa pode contribuir com a justiça defendendo os injustiçados".
Abrindo o Jogo
A curva da morte, situada à BR-364 em Jaru, é conhecida pelo alto número de acidentes fatais; entretanto, no dia 20 de abril de 2018, há quase um ano, Hamilton Alves trafegou tranquilamente pelo trecho. Porém, uma dupla de moto – condutor e carona – já o seguia pelo caminho travado de volta para casa, vez que Alves apresenta o programa Abrindo o Jogo em Jaru há 14 anos, mas mora, de fato, em Ouro Preto d’Oeste.
Na curva, os criminosos tentaram fazer jus ao nome ordinário conferido ao perímetro.
Sete tiros.
Seis deles atingiram o jornalista. Ele está vivo, mas vai conviver para o resto da vida com sequelas: dois dedos da sua mão esquerda, por exemplo, estão travados, mexem com dificuldade, mas não têm articulação completa. Os nervos do braço foram destruídos pelos tiros e há, até hoje, uma bala alojada em seu pescoço.
A Polícia Civil (PC/RO) e o Ministério Público (MP/RO) entendem que as motivações do crime guardam relações políticas vinculadas às denúncias de Hamilton Alves.
Para compreender a dimensão, os dois vídeos reproduzidos pela coluna (um da SIC TV de Jaru, o outro da TV Allamanda) logo abaixo deixam claro o tamanho do vespeiro onde o jornalista revolveu fustigar.
Segundo Alves, todas as autoridades envolvidas, inclusive presas e afastadas à época, estão soltas e ocupando as mesmas funções de onde foram apartadas.
Está tudo como dantes no quartel d'Abrantes.
A parte boa de tudo isso, se é que pode se chamar assim, foi que Hamilton Alves continua apresentando o programa, com receio, mas sem pavor. O medo não o impediu de fazer o trabalho, a despeito da omissão praticada pelo poder público em relação à sua vida.
A Rádio Nova Jaru FM divide com o profissional os custos de seguranças para que a atividade jornalística e os preceitos constitucionais sejam resguardados.
Continuar o ofício nos mesmos termos, depois de tudo o que aconteceu, é demonstração cabal daquilo que deveríamos exaltar no dia 07 de abril. Por outro lado, o silêncio e a lentidão das instituições que deveriam nos proteger, jogando os desdobramentos desses casos para debaixo do tapete, refletem, claramente, que o Dia do Jornalista precisa ser relembrado com as cores do luto. Nada mais.
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VISÃO PERIFÉRICA
POR: VINICIUS CANOVA