SANTO ANTÔNIO, RESTITUIDOR DE BENS PERDIDOS

16 de outubro de 2017 1043

Expliquei, em artigo recente, como se originou a fama de casamenteiro de Santo Antônio, um dos santos mais populares do Brasil, padroeiro da Diocese e da Cidade de Piracicaba.

Santo Antônio de Lisboa, como preferem os portugueses, ou de Pádua, como se tornou mais geralmente conhecido, também é invocado como eficacíssimo restituidor de bens perdidos. Na sua biografia escrita pelo Pe. Fernando Thomaz de Brito, que citei no artigo anterior, são narrados vários episódios antigos de devotos que recuperaram objetos perdidos, graças à intercessão de Santo Antônio. Em qualquer roda de conversa, em Portugal, ainda hoje basta falar de Santo Antônio e imediatamente todos os presentes se põem a contar casos maravilhosos de coisas perdidas e achadas graças a ele. Não há quem não tenha depoimentos a dar. E eu também tenho um caso a contar, acontecido comigo mesmo.

Muitos anos atrás, lá por 1976 ou 1977, notei certo dia a falta de uma Medalha de São Bento pela qual tinha grande estima, e por mais que a procurasse não houve meios de a encontrar. Repetidas vezes invoquei Santo Antônio, mas contrariamente ao que já havia acontecido em diversas ocasiões análogas, o Santo pareceu não querer atender o meu pedido.

Muitos meses depois, o episódio já estava inteiramente esquecido, quando fui com alguns colegas à Ilha Comprida, no extremo sul do litoral paulista, acampando numa praia então deserta. Levava no bolso da camisa uma preciosa relíquia do Santo Lenho, numa teca de prata portuguesa, que me fora dada por um sacerdote da Companhia de Jesus e da qual nunca me separava.

Depois de dois ou três dias de acampamento, fomos, alguns companheiros e eu, visitar a histórica e pitoresca cidadezinha de Cananeia, numa ilha vizinha. Lá nos demoramos, passeando, cerca de duas horas, visitando, entre outros edifícios, a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes e de São João Batista, uma das mais antigas do Brasil.

A certa altura do passeio, pondo a mão no bolso, dei–me conta de que não mais estava ali a relíquia insigne!

Lembrava–me de ter saído com ela do acampamento, mas não sabia onde poderia tê–la perdido. Poderia ter sido na areia da praia; ou durante o trajeto de automóvel; ou na balsa, durante a travessia do braço de mar; ou ainda durante o passeio a pé, na cidade... Encontrá-la seria como achar agulha em palheiro.

Aflitíssimo, me pus a percorrer todo o caminho que antes fizera na cidade, na esperança - muito tênue naturalmente falando - de encontrar a relíquia. Ao mesmo tempo, invocava Santo Antônio, pedindo que a fizesse reaparecer.

Graças a ele, fui reencontrá-la bem no meio de uma passagem de terra batida, próximo ao centro da cidade, num local em que certamente haviam transitado dezenas de pessoas e no qual o estojo de prata em que estava a relíquia com facilidade seria percebido pelos passantes.

Contentíssimo com o achado, retornei ao acampamento, dando graças ao glorioso Santo Antônio pela graça que acabara de receber. Ao chegar à barraca de praia, uma surpresa: enfiei a mão num dos bolsos da calça... e lá estava a Medalha de São Bento que tanto procurara meses antes! Ela ficara esquecida naquele bolso de uma veste pouco usada, até, muitos meses depois, reaparecer naquelas circunstâncias tão especiais.

Eu já me havia esquecido dela, mas Santo Antônio ainda se recordava do pedido... E parece ter–se comprazido em demonstrar seu poder de restituidor dos bens perdidos, restituindo de modo maravilhoso, em menos de uma hora, dois bens perdidos em locais e ocasiões tão diferentes!

É por essas e muitas outras que Santo Antônio é invocado como restituidor de bens perdidos, como reza o seu tradicional Responsório:

“Se milagres tu procuras,/ Pede-os logo a Santo Antônio; / Fogem dele as desventuras,/ O erro, os males e o demônio. / Torna manso o iroso mar; / Da prisão, quebra as correntes, / Bens perdidos faz achar; / E dá saúde aos doentes”.

 

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.