Sesau tenta combater vírus com política. E falha em ambos
2 de julho de 2020
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No momento em que o país atinge o dramático número de 60 mil vidas perdidas para o vírus, a gravidade da situação rondoniense na crise sanitária provocada torna quase consensual a inoperância das autoridades governamentais no enfrentamento do problema. Não fosse isso, o estabelecimento do novo protocolo de isolamento não teria que ser definido no judiciário, onde a única voz dissonante na audiência de conciliação foi exatamente a do titular da Sesau. Fernando Máximo, Irredutível na defesa da liberação das atividades econômicas, foi a única voz a desprezar os riscos de um sistema de saúde impotente, especialmente na capital.
Depois de impor à população quase quatro meses de idas e vindas de um isolamento mal planejado e pessimamente executado, sem acompanhamento de providências para evitar o colapso da rede hospitalar, o estado claramente se acovardou diante das pressões até justificáveis de lideranças empresariais, assombradas pelos riscos de uma quebradeira generalizada. E optou por literalmente “deixar correr”, mesmo sabendo que faltam leitos hospitalares, médicos e medicamentos. Faltam, principalmente, planejamento e competência. O governador Marcos Rocha ainda não percebeu que, nesse momento, não basta ser “amigo” do presidente: é preciso atitude!
O que aparentemente acontece é que, entre a vida da população e as perdas político-eleitorais, o governo tenha optado pelo caminho que acredita mais fácil: a política. Não é. A começar pelo trancamento da pauta na Assembleia, por inconformismo dos deputados pelo fechamento do comércio em municípios nos quais consideram desnecessária a providência. Outro reflexo dessa atitude foi ignorar a experiência e capacidade de planejamento nacionalmente reconhecidas do ex-secretário de saúde, Williames Pimentel, que não se negaria a colaborar, caso fosse convidado.
Mas em lugar de usar sua capacidade técnica nos esforços para combater o vírus, o que o governo do estado fez foi barrar, há 15 dias, o acesso de Pimentel à reunião com o ministro interino da saúde, Eduardo Pazzuelo no Palácio Rio Madeira. O ex-secretário, que representava o senador Confúcio Moura, presidente da comissão de fiscalização dos recursos no combate ao Covid, havia sido convidado para o encontro pela própria assessoria do ministro. O próprio governador reconheceu mais tarde a patacoada, mas sua manifestação ficou parecida com a do caçador que culpa a cachorrada.
Ou poderia haver outra interpretação na deplorável tentativa anterior de atribuir à população e a governos anteriores a responsabilidade pelo próprio imobilismo? O secretário sugeriu, após um ano e meio de governo, que a culpa pela falência do sistema hospitalar é da "herança maldita" do governo anterior, o que equivale a uma confissão de culpa. "Pegamos Rondônia como um dos piores lugares do Brasil em leitos" – disse o titular da Sesau na nota que admitiu a falência do sistema – “Estamos no limite do limite” – e atribuiu a responsabilidade à população: “infelizmente, observamos que tem muita gente não seguindo as recomendações" (sic).
Fernando Máximo não pode nem mesmo pretextar ignorância, já que o governo recebeu de Pimentel, ainda na transição, um detalhado relatório de atividades que condensa todo o período das gestões Confúcio Moura/Daniel Pereira, além de terem sido franqueadas, à comissão de transição, visitas a todos os hospitais da rede pública. Ao mesmo tempo foram realizadas licitação/aquisição de R$ 20 milhões em insumos e medicamentos para atender ao novo governo, para não permitir a descontinuidade do tratamento ao público na mudança de governo. Mas há registros de que, em 2019, o governo do estado investiu 40% menos em medicamentos que nos outros anos do governo anterior.
O ex-secretário Williames Pimentel foi inclusive destaque nacional em matéria da Globo News, que abordou a redução de número de leitos hospitalares em todos os estados. A exceção foi justamente Rondônia, que incorporou à rede pública 853 novos leitos, inclusive de UTI. Foi um crescimento substancial, da ordem de 32%. O estado possuía 2.673 leitos e passou a contar com 3.326. Mesmo em leitos de UTI o estado ficou então com 174, acima da média nacional de 150 leitos, segundo o Ministério da Saúde.
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